Determinantes da progressão e regressão da aterosclerose subclínica ao longo de 6 anos - MDHealth - Educação Médica Independente
sexta-feira nov 22, 2024

Determinantes da progressão e regressão da aterosclerose subclínica ao longo de 6 anos

Escrito por: Samuel Moscavitch em 6 de março de 2024

4 min de leitura

O quê?

Um estudo que investigou a dinâmica temporal do desenvolvimento de doença aterosclerótica subclínica realizado na coorte do estudo PESA (“Progression of Early Subclinical Atherosclerosis”), onde participantes foram submetidos a avaliações seriadas de imagens por ultrassom vascular tridimensional (3DVUS) de artérias periféricas durante 6 anos.

Por quê?

A aterosclerose é uma doença sistêmica com início precoce ao longo da vida. No entanto, sua dinâmica temporal, seja progressão ou regressão, e seus determinantes ainda são pouco conhecidos. Biomarcadores de aterosclerose subclínica baseados em imagens, como o escore de cálcio da artéria coronária (CAC), foram propostos para melhorar a previsão individual do risco cardiovascular. Dessa forma, esse estudo decidiu investigar a aterosclerose subclínica em indivíduos aparentemente saudáveis, de meia-idade e assintomáticos ao longo de 6 anos.

Como?

            O estudo de coorte PESA foi um estudo longitudinal com 4.184 voluntários saudáveis de idade entre 40 – 55 anos, 37% do sexo feminino, sem histórico de doença cardiovascular, realizado entre 2010 e 2014. O presente estudo incluiu participantes com dados completos sobre os volumes da placa carotídea e femoral obtidos por imagem 3DVUS no início do estudo (visita 1) e no acompanhamento de 3 e 6 anos (visitas 2 e 3). Os exames de imagem incluíram 3DVUS para avaliar aterosclerose periférica nas artérias carótidas e femorais e tomografia computadorizada cardíaca (TC) sem contraste para medir CAC.

 

E aí?

No início do estudo, os participantes tinham uma idade média de 45 anos (IIQ: 42–49 anos) e 36% eram mulheres. A mediana do tempo de seguimento foi de 6,1 anos (IIQ: 5,7-6,6 anos). A prevalência de aterosclerose subclínica periférica no início do estudo foi de 44,1%, aumentando para 58,0% após os 6 anos de acompanhamento.

Os efeitos do LDL-C mais elevado e da PAS elevada sobre o risco de progressão da aterosclerose subclínica em 6 anos foi maior entre os participantes mais jovens (Pinteração = 0,04 e 0,02), respectivamente).

A regressão da aterosclerose subclínica (diminuição de 100% no volume global da placa) ocorreu em 8,0% dos indivíduos com doença prevalente no momento da inclusão no estudo. As chances de regressão de aterosclerose subclínica em 6 anos foram inversamente relacionadas ao tabagismo ativo inicial, sexo masculino, maior fibrinogênio, maior LDL-C e idade avançada.

 

E agora?

            A progressão da aterosclerose subclínica periférica do início até a última visita do seguimento de 6 anos ocorreu em 32,7% dos indivíduos (17,5% apresentando aterosclerose subclínica incidente e 15,2% progredindo de doença prevalente no início do estudo). Os preditores iniciais mais importantes da progressão da aterosclerose subclínica foram idade avançada, LDL-C mais elevado, sexo masculino, tabagismo ativo e PAS mais elevada.

            O LDL-C mais elevado foi o fator de risco que apresentou associação mais forte com a progressão entre os participantes que desenvolvem aterosclerose subclínica incidente (de início recente) em 6 anos, mas sua relevância para pacientes com doença prevalente é menor. Por outro lado, fumar tabaco ativamente foi o fator de risco cardiovascular mais fortemente associado à progressão da doença aterosclerótica prevalente no início do estudo.

            As limitações desse estudo foram: primeiro, a amostra ser composta somente de europeus, caucasianos e de meia-idade e, portanto, os resultados não devem ser generalizados. Apesar de terem sido testadas muitas variáveis no estudo PESA, algumas variáveis com potencial de influenciar a progressão ou regressão da aterosclerose subclínica, como a poluição atmosférica, não foram medidas. Em segundo, ainda que o efeito do LDL-C e da PAS basais mais elevados sobre a progressão da aterosclerose subclínica tenha sido mais acentuado nos participantes mais jovens, não se pôde determinar se esses níveis basais aumentados estariam persistindo ao longo de idades anteriores ao estudo. Terceiro, a regressão da aterosclerose subclínica em 6 anos foi definida utilizando critérios muito rigorosos, o que pode ter ocasionado em uma perda de poder estatístico. Por último, o resultado da progressão da aterosclerose subclínica foi estimado pela definição de aumento de >100% no volume global da placa em 6 anos. Análises de sensibilidade com outros limiares sugerem que seria pouco provável que os resultados do estudo tenham sido motivados pela definição utilizada.

            Ao longo de 6 anos, a aterosclerose subclínica progrediu em 1/3 dos indivíduos assintomáticos de meia-idade, mas regrediu em uma pequena proporção. O impacto do LDL-C basal e da PAS na progressão da aterosclerose subclínica foi maior nos participantes mais jovens. Os resultados sugerem que um controle precoce e mais rigoroso de fatores de risco poderia desacelerar a progressão da aterosclerose, com provável benefício a longo prazo na redução do risco de eventos clínicos cardiovasculares.

Referência

  1. Mendieta G, Pocock S, Mass V, Moreno A, Owen R, García-Lunar I, López-Melgar B, Fuster JJ, Andres V, Pérez-Herreras C, Bueno H, Fernández-Ortiz A, Sanchez-Gonzalez J, García-Alvarez A, Ibáñez B, Fuster V. Determinants of Progression and Regression of Subclinical Atherosclerosis Over 6 Years. J Am Coll Cardiol. 2023 Nov 28;82(22):2069-2083. doi: 10.1016/j.jacc.2023.09.814. PMID: 37993199.

Sobre o autor

Samuel Moscavitch

Mestre em Ciências Cardiovasculares pela UFF – Universidade Federal Fluminense; Cardiologista pela UFF – Universidade Federal Fluminense; Doutor em Biologia Celular e Molecular com ênfase em Imunologia pelo IOC/Fiocruz; Pós-doutor em Doenças Cardiovasculares, Inflamação e Aterosclerose pela Harvard Medical School e pelo Brigham and Women’s Hospital; Pesquisador Colaborador do Instituto Nacional de Cardiologia de Laranjeiras.