Neste vídeo, Dr. Pedro Barros¹ e Dr. Remo Furtado² comentam os resultados controversos do CLEAR SYNERGY Trial e discutem sobre o papel da colchicina e da espironolactona no manejo pós-infarto agudo do miocárdio. Quer saber mais? Acesse e confira na íntegra.
- Médico Cardiologista, Senior Trialist do BCRI, Diretor de Ensino e Coordenador da Pós-graduação em Pesquisa Clínica da Med.IQ Academy
2. Médico Cardiologista, Coordenador da Pós-graduação em Pesquisa Clínica da Med.IQ Academy e Professor Colaborador da Faculdade Diretor de Pesquisa do BCRI
O CLEAR SYNERGY Trial, apresentado durante o Congresso American Heart Association (AHA) 2024, trouxe novas informações sobre potenciais intervenções no manejo de pacientes com infarto agudo do miocárdio (IAM). O estudo teve um desenho fatorial 2×2, em que duas estratégias terapêuticas foram avaliadas de maneira independente – colchicina versus placebo e espironolactona versus placebo. O objetivo desse estudo foi determinar os efeitos cardiovasculares de longo prazo da colchicina em pacientes com IAM com (IAMCSST) ou sem supradesnivelamento do segmento ST (IAMSSST), após intervenção coronária percutânea (ICP).
A análise do braço colchicina foi apresentada no Congresso Transcatheter Cardiovascular Therapeutics 2024¹ e a neutralidade desses resultados já havia causado surpresa por contrariar os achados positivos de estudos anteriores ao constatar que a colchicina não reduziu o risco de eventos cardiovasculares adversos maiores em pacientes pós IAM submetidos à ICP. No entanto, Dr. Pedro reforça que a alta taxa de descontinuidade da colchicina pode ter inferido nos resultados do estudo, sugerindo que ainda são necessários estudos adicionais.
Quanto à espironolactona, apesar de ter um papel bem estabelecido na antagonização dos efeitos da aldosterona, na redução da fibrose e remodelamento cardíaco, os dados sobre o benefícios dos antagonistas da aldosterona após IAM ainda são limitados a pacientes com insuficiência cardíaca de fração de ejeção reduzida (estudo EPHESUS com eplerenona).2 Os resultados do braço espironolactona, apresentados no AHA 20243, indicaram que, após IAM, a espironolactona de forma rotineira não reduziu a incidência de morte por causas cardiovasculares ou de IC nova ou agravada, sugerindo que o uso do medicamento deve ser reservado a subgrupos específicos de pacientes que já apresentam indicações claras, como disfunção ventricular. No entanto, Dr. Remo chama a atenção para o hazard ratio [HR = 0,91] que, apesar de não ser estatisticamente significativo, sugere benefício modesto, levantando a necessidade de estudos complementares que avaliem a resposta em subgrupos específicos, como pacientes que se enquadram na zona “midrange”, com IC com fração de ejeção levemente reduzida. Dr. Pedro reforça que este grupo de fração de ejeção > 40%, caso tenha diagnóstico de IC, já pode se beneficiar da finerenona, um novo antagonista de aldosterona não-esteroidal, de acordo com os dados do FINEARTS-HF.4
Desse modo, os resultados do CLEAR SYNERGY Trial reforçam a importância de estudos adicionais para esclarecer o papel da colchicina e da espironolactona no manejo pós-infarto, especialmente em subgrupos específicos. A neutralidade dos achados destaca os desafios da medicina de precisão, indicando que intervenções personalizadas podem ser o caminho para otimizar os desfechos cardiovasculares.
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