ACC2025 | FRESH-UP: estudo questiona benefício da restrição hídrica na insuficiência cardíaca crônica

O FRESH-UP foi o primeiro estudo randomizado a avaliar de forma estruturada o impacto da restrição hídrica na insuficiência cardíaca crônica. Dr. Roland van Kimmenade# apresenta os dados no ACC2025, em entrevista com Dr. Michael Gibson*. Para mais detalhes, acesse o link e confira o conteúdo completo! 

*Médico Cardiologista Intervencionista, Criador do site clinicaltrialresults.org, Fundador do WikiDoc.org e WikiPatient.org e Correspondente Médico-Chefe do American College of Cardiology 

# Médico Cardiologista e Pesquisador da Radboud University Medical Centre Nijmegen 

 

No ACC2025, o Dr. Roland van Kimmenade apresentou os resultados do estudo FRESH-UP1 (Fluid REStriction in Heart Failure vs Liberal Fluid UPtake), que avaliou, de forma inédita, os efeitos da restrição hídrica versus ingestão liberal de líquidos em pacientes com insuficiência cardíaca crônica. O ensaio clínico foi randomizado, aberto e multicêntrico, com inclusão de 504 pacientes com diagnóstico de insuficiência cardíaca, majoritariamente em classe funcional II da NYHA, conforme os critérios da Sociedade Europeia de Cardiologia (ESC). Os participantes foram alocados para seguir uma estratégia restritiva de até 1.500 mL/dia ou uma estratégia liberal, sem limites específicos. O desfecho primário foi a qualidade de vida avaliada pelo Kansas City Cardiomyopathy Questionnaire (KCCQ-OSS) após três meses. 

Os resultados mostraram uma diferença de 2,17 pontos a favor da ingestão liberal, valor clinicamente relevante, mas que não alcançou significância estatística (p = 0,06). Ainda assim, os autores ressaltam que o estudo ficou “a uma gota de água da significância”. Além disso, nenhum dos desfechos secundários avaliados — como eventos de insuficiência cardíaca, mortalidade, função renal, NT-proBNP ou variação de peso — apresentou diferença entre os grupos. Um ponto de destaque foi o aumento significativo no desconforto relacionado à sede nos pacientes com restrição, medido pela Thirst Distress Scale for Heart Failure (TDS-HF), sugerindo piora na experiência subjetiva do paciente. 

Segundo o Dr. Kimmenade, este é o primeiro estudo a questionar de forma estruturada o valor clínico da restrição hídrica na insuficiência cardíaca crônica. A prática, embora amplamente recomendada, carecia de evidência robusta, e o FRESH-UP marca um passo importante para preencher essa lacuna nas diretrizes. Novas análises de subgrupos estão em andamento, e os dados devem ser apresentados ainda este ano. A principal mensagem do estudo, de acordo com o autor, é que, em pacientes estáveis com insuficiência cardíaca crônica, a restrição hídrica rotineira pode não trazer benefício real e, além disso, prejudicar a qualidade de vida.