Dr. Michael Gibson* entrevista a Dra. Carolyn Hendrickson# para discutir os dados do estudo EQUIOX, apresentados no ACC 2025, que revelam possíveis vieses na oximetria de pulso associados a diferentes tons de pele e grupos étnicos. Para mais detalhes, acesse o link e confira o conteúdo completo!
* Médico Cardiologista Intervencionista, Criador do site clinicaltrialresults.org, Fundador do WikiDoc.org e WikiPatient.org e Correspondente Médico-Chefe do American College of Cardiology
# Médica especialista em Pneumologia e Terapia Intensiva e Pesquisadora na University of California
Os oxímetros de pulso, amplamente utilizados no monitoramento da oxigenação, podem apresentar desempenho desigual entre diferentes tons de pele e grupos étnicos. A Dra. Carolyn Hendrickson apresentou no ACC 2025 os dados do estudo EQUIOX1, que explorou de forma prospectiva e com metodologia rigorosa essas possíveis limitações, trazendo implicações importantes para a prática clínica e a regulação de dispositivos médicos.
O EQUIOX foi um estudo prospectivo de coorte realizado em um hospital público universitário na Califórnia, afiliado à Universidade da Califórnia em San Francisco. Foram incluídos 632 pacientes, com coleta simultânea de medidas de SpO₂ por oximetria de pulso e SaO₂ por gasometria arterial, além de dados sobre perfusão periférica, uso de vasopressores, presença de choque, movimentação do paciente e localização do sensor. A pigmentação da pele foi quantificada por métodos subjetivos e objetivos, e os pacientes foram categorizados por raça e etnia autodeclaradas.
Ao contrário de estudos retrospectivos anteriores realizados durante a pandemia de COVID-19, que apontaram uma tendência a superestimar a oxigenação em indivíduos negros, o EQUIOX encontrou um padrão misto de viés. A maioria das observações demonstrou um viés negativo, ou seja, o oxímetro indicava uma saturação mais baixa do que a medida pela gasometria arterial. No entanto, em cerca de 20% das observações, houve viés positivo, e esse viés foi mais frequente entre indivíduos de pele mais escura e pacientes autodeclarados negros ou afro-americanos.
Esses achados revelam que o comportamento dos oxímetros não é uniforme e que a precisão da leitura pode ser impactada tanto pela pigmentação da pele quanto pelo estado fisiológico do paciente, especialmente em casos de baixa perfusão periférica ou choque. Segundo a Dra. Hendrickson, há uma incerteza maior nas leituras do oxímetro do que os profissionais costumam perceber, e os monitores podem transmitir uma falsa sensação de confiabilidade por meio de algoritmos de suavização de sinal.
Além disso, como o estudo utilizou apenas uma marca de dispositivo, os autores não puderam comparar diretamente entre fabricantes. Ainda assim, a literatura aponta heterogeneidade entre dispositivos, apesar de todos serem regulados sob os mesmos critérios pela FDA. A pesquisa sugere que diferentes algoritmos de processamento de sinais podem gerar variações importantes na acurácia da medida.
A equipe do estudo defende que esses dados sejam utilizados para desenvolver algoritmos de alerta incorporados aos monitores, indicando ao clínico quando a leitura pode ser imprecisa e a gasometria arterial deve ser priorizada para decisões críticas. Além disso, os resultados devem alimentar discussões regulatórias e iniciativas para padronização e validação dos oxímetros em populações mais diversas, contribuindo para maior equidade diagnóstica e terapêutica.