Dr. Michael Gibson* e Dr. Stefan D. Anker#, durante o ACC 2025, comentam como a carboximaltose férrica intravenosa pode impactar os desfechos clínicos em pacientes com insuficiência cardíaca e deficiência de ferro. Para mais detalhes, acesse o link e confira o conteúdo completo!
* Médico Cardiologista Intervencionista, Criador do site clinicaltrialresults.org, Fundador do WikiDoc.org e WikiPatient.org e Correspondente Médico-Chefe do American College of Cardiology
#Médico Cardiologista e Chefe do Depto de Homeostase Tecidual em Cardiologia e Metabolismo da Charité University Medicine Berlin
Durante o ACC 2025, o Dr. Stefan D. Anker no ACC 2025 apresentou os resultados do estudo FAIR-HF2, que avaliou o uso de carboximaltose férrica intravenosa em pacientes com insuficiência cardíaca com fração de ejeção reduzida (<45%) e deficiência de ferro. Trata-se de um estudo envolvendo 1.105 pacientes, com seguimento médio de 1 ano e 9 meses, randomizados para receber carboximaltose férrica ou placebo, em um modelo duplo-cego, controlado e pragmático.
O estudo definiu três desfechos primários compostos: 1) morte cardiovascular ou primeira hospitalização por insuficiência cardíaca, 2) hospitalizações recorrentes por insuficiência cardíaca, e 3) morte CV ou hospitalização por IC em pacientes com saturação de transferrina <20%, adotando uma definição mais contemporânea de deficiência de ferro. Em todos os desfechos houve redução relativa de cerca de 20% com o uso de carboximaltose férrica. No entanto, nenhum deles atingiu significância estatística conforme os critérios estritos pré-especificados: o primeiro desfecho teve p=0,038, o segundo p=0,07, e o terceiro p=0,11.
Apesar disso, os resultados estão alinhados com ensaios anteriores (CONFIRM-HF, AFFIRM-AHF, EFFECT-HF), e a meta-análise com mais de 7.000 pacientes confirmou um benefício estatisticamente significativo na redução de hospitalizações e eventos cardiovasculares, com os resultados já aceitos para publicação no Nature Medicine.
Um ponto adicional discutido pelo Dr. Anker foi a relação entre a dose de ferro e o benefício clínico. No primeiro ano, os pacientes recebiam doses mais elevadas (cerca de 1.500 a 2.000 mg), com reduções de 25 a 30% nos eventos, enquanto no segundo ano essa dose era consideravelmente menor (~900 mg), o que pode ter contribuído para a atenuação dos efeitos observados. Essa observação levanta a hipótese de que a reposição de ferro pode precisar ser mantida de forma mais intensiva ao longo do tempo para preservar os benefícios.
Além disso, a análise de subgrupos da meta-análise revelou uma interação significativa entre sexo e benefício clínico, com homens apresentando redução robusta de eventos (cerca de 25%), enquanto mulheres não apresentaram benefício clínico mensurável, embora tenham se beneficiado do ponto de vista sintomático e funcional. As razões para essa diferença ainda não estão claras.
A terapia mostrou-se segura, sem aumento de eventos adversos graves, com tendência à redução de mortalidade cardiovascular (10 a 15%) e de mortalidade por todas as causas (8 a 10%), embora sem significância estatística isolada.
Diante dos resultados, o Dr. Anker reforçou que as diretrizes atuais, que já recomendam o uso de ferro intravenoso para melhora de sintomas, qualidade de vida e redução de hospitalizações, continuam válidas e não devem ser enfraquecidas. A consolidação dos dados do FAIR-HF2 com os demais estudos reforça o papel da carboximaltose férrica no manejo integrado da insuficiência cardíaca com deficiência de ferro.