Relação da ocorrência de Herpes Zoster com a infecção por SARS-CoV-2 e vacinação contra COVID-19 - MDHealth - Educação Médica Independente
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Relação da ocorrência de Herpes Zoster com a infecção por SARS-CoV-2 e vacinação contra COVID-19

Escrito por: Msc. Bárbara Yasmin Garcia Andrade em 8 de fevereiro de 2023

4 min de leitura

A incidência de Herpes Zoster aumentou significativamente desde o início da pandemia mundial de COVID-19. Dados recentes demonstram que a infecção por SARS-CoV-2 possui uma relação causal com a reativação do vírus latente Varicella-zoster, ocasionando o aparecimento de herpes zoster (HZ).

Provavelmente a relação ocorre devido a linfopenia causada pelo COVID-19 ser um causador dessa reativação. Estudos epidemiológicos recentes demonstraram maior incidência de HZ estatisticamente detectável após a vacina contra o coronavírus. Consequentemente, a erupção de HZ pode ser uma reação adversa rara a essas vacinas, assim como de outras conhecidas.

A herpes zoster (HZ) é causada pela reativação do vírus latente Varicella-zoster (VZV). O VZV é um herpesvírus humano neurotrópico, pertencente ao gênero alfa herpesviridiae, e tem distribuição epidemiologia mundial. A infecção inicial, muitas vezes contraída na infância, surge como uma erupção maculopapular (varicela/catapora). Apesar da recuperação clínica, o VZV persiste nos corpos das células neurais localizadas nos gânglios espinhais da raiz dorsal e nos gânglios do trigêmeo.

Acredita-se que a reativação do vírus é decorrente de um declínio na imunidade mediada por células (CMI) específica do VZV. A incidência de herpes zoster aumenta com a idade, com cerca de 3 e 10 casos por 1.000 em indivíduos com 50 e 80 anos, respectivamente, enquanto outros fatores de risco para HZ são disfunção do CMI (indivíduos imunossuprimidos), diabetes, sexo (feminino), suscetibilidade genética, trauma mecânico, estresse psicológico recente e raça caucasiana. 

Recentemente, a reativação do VZV vem sendo observada em pacientes com COVID-19 e em casos após vacinação contra a doença. A HZ tem sido relatada, principalmente, simultaneamente ou após o início da infecção por COVID-19. No entanto, o HZ pode preceder no início do coronavírus, sendo a primeira manifestação da doença.

Um aumento da incidência de HZ durante a pandemia foi relatado em um estudo do Brasil, sendo que a média geral brasileira aumentou em +35,4% durante este período (março a agosto de 2020), quando comparada ao mesmo intervalo no período pré-pandêmico nos anos de 2017 a 2019. O HZ no contexto da pandemia de COVID-19 foi relatado em todas as faixas etárias, incluindo crianças imunocompetentes de 7 a 9 anos de idade com HZ oftálmico.

Hoje já se sabe que a infecção de COVID-19 causa uma disfunção imune das células T, e isso inclui linfopenia (redução dos cluster de diferenciação CD4+ e CD8+, células B e células natural killer), linfopoiese prejudicada, apoptose de linfócitos aumentada e exaustão de linfócitos. Esse quadro é conhecido por favorecer a reativação do VZV, resultando em HZ. Pensa-se que a ocorrência de infecção por HZ se correlaciona com uma queda no limiar de CMI específico de VZV abaixo de um nível desconhecido, enquanto a gravidade de HZ se correlaciona com o nível remanescente deste CMI específico de VZV no momento da reativação. Portanto, hipoteticamente, isso pode causar aumento da ocorrência de HZ e de uma doença mais grave em pacientes com infecção por COVID-19.

A reativação VZV foi relatada após a administração de diferentes plataformas de vacina contra SARS-CoV-2, também entre indivíduos sem estados imunossupressores conhecidos. A reativação de vírus herpesviridae, incluindo VZV, é potencialmente desencadeada por vacinas contra febre amarela, hepatite A, raiva e influenza.

Estudos epidemiológicos recentes demonstraram uma maior incidência de HZ estatisticamente detectável após a vacina contra o coronavírus. Consequentemente, a erupção de HZ pode ser uma reação adversa rara às vacinas COVID-19. Embora a base molecular da reativação do VZV permaneça obscura, o comprometimento temporário da imunidade mediada por células T específicas do VZV podem desempenhar um papel mecanicista na patogênese pós-vacinação.

Como o cenário mundial de COVID-19 é relativamente recente, ainda não existe uma conclusão definitiva sobre a reativação de VZV, a infecção e/ou a vacinação contra a doença. Desta forma, tal relação causal necessita de mais estudos epidemiológicos para confirmação. Porém, a reativação do VZV é um fenômeno bem estabelecido tanto com infecções quanto com outras vacinas (ou seja, esse evento adverso não é específico do COVID-19).

Referências

  1. PATIL, Anant; GOLDUST, Mohamad; WOLLINA, Uwe. Herpes zoster: A Review of Clinical Manifestations and Management. Viruses, v. 14, n. 2, p. 192, 2022.

  2. DIEZ-DOMINGO, Javier et al. Can COVID-19 increase the risk of herpes zoster? A narrative review. Dermatology and therapy, v. 11, n. 4, p. 1119-1126, 2021.

  3. IWANAGA, Joe et al. A narrative review and clinical anatomy of herpes zoster infection following COVID‐19 vaccination. Clinical Anatomy, v. 35, n. 1, p. 45-51, 2022.

  4. HERTEL, M. et al. Real‐world evidence from over one million COVID‐19 vaccinations is consistent with reactivation of the varicella‐zoster virus. Journal of the European Academy of Dermatology and Venereology, v. 36, n. 8, p. 1342-1348, 2022.

Sobre o autor

Msc. Bárbara Yasmin Garcia Andrade

Doutoranda em Biologia Celular e Molecular - FMRP/USP