A incidência de Herpes Zoster aumentou significativamente desde o início da pandemia mundial de COVID-19. Dados recentes demonstram que a infecção por SARS-CoV-2 possui uma relação causal com a reativação do vírus latente Varicella-zoster, ocasionando o aparecimento de herpes zoster (HZ).
Provavelmente a relação ocorre devido a linfopenia causada pelo COVID-19 ser um causador dessa reativação. Estudos epidemiológicos recentes demonstraram maior incidência de HZ estatisticamente detectável após a vacina contra o coronavírus. Consequentemente, a erupção de HZ pode ser uma reação adversa rara a essas vacinas, assim como de outras conhecidas.
A herpes zoster (HZ) é causada pela reativação do vírus latente Varicella-zoster (VZV). O VZV é um herpesvírus humano neurotrópico, pertencente ao gênero alfa herpesviridiae, e tem distribuição epidemiologia mundial. A infecção inicial, muitas vezes contraída na infância, surge como uma erupção maculopapular (varicela/catapora). Apesar da recuperação clínica, o VZV persiste nos corpos das células neurais localizadas nos gânglios espinhais da raiz dorsal e nos gânglios do trigêmeo.
Acredita-se que a reativação do vírus é decorrente de um declínio na imunidade mediada por células (CMI) específica do VZV. A incidência de herpes zoster aumenta com a idade, com cerca de 3 e 10 casos por 1.000 em indivíduos com 50 e 80 anos, respectivamente, enquanto outros fatores de risco para HZ são disfunção do CMI (indivíduos imunossuprimidos), diabetes, sexo (feminino), suscetibilidade genética, trauma mecânico, estresse psicológico recente e raça caucasiana.
Recentemente, a reativação do VZV vem sendo observada em pacientes com COVID-19 e em casos após vacinação contra a doença. A HZ tem sido relatada, principalmente, simultaneamente ou após o início da infecção por COVID-19. No entanto, o HZ pode preceder no início do coronavírus, sendo a primeira manifestação da doença.
Um aumento da incidência de HZ durante a pandemia foi relatado em um estudo do Brasil, sendo que a média geral brasileira aumentou em +35,4% durante este período (março a agosto de 2020), quando comparada ao mesmo intervalo no período pré-pandêmico nos anos de 2017 a 2019. O HZ no contexto da pandemia de COVID-19 foi relatado em todas as faixas etárias, incluindo crianças imunocompetentes de 7 a 9 anos de idade com HZ oftálmico.
Hoje já se sabe que a infecção de COVID-19 causa uma disfunção imune das células T, e isso inclui linfopenia (redução dos cluster de diferenciação CD4+ e CD8+, células B e células natural killer), linfopoiese prejudicada, apoptose de linfócitos aumentada e exaustão de linfócitos. Esse quadro é conhecido por favorecer a reativação do VZV, resultando em HZ. Pensa-se que a ocorrência de infecção por HZ se correlaciona com uma queda no limiar de CMI específico de VZV abaixo de um nível desconhecido, enquanto a gravidade de HZ se correlaciona com o nível remanescente deste CMI específico de VZV no momento da reativação. Portanto, hipoteticamente, isso pode causar aumento da ocorrência de HZ e de uma doença mais grave em pacientes com infecção por COVID-19.
A reativação VZV foi relatada após a administração de diferentes plataformas de vacina contra SARS-CoV-2, também entre indivíduos sem estados imunossupressores conhecidos. A reativação de vírus herpesviridae, incluindo VZV, é potencialmente desencadeada por vacinas contra febre amarela, hepatite A, raiva e influenza.
Estudos epidemiológicos recentes demonstraram uma maior incidência de HZ estatisticamente detectável após a vacina contra o coronavírus. Consequentemente, a erupção de HZ pode ser uma reação adversa rara às vacinas COVID-19. Embora a base molecular da reativação do VZV permaneça obscura, o comprometimento temporário da imunidade mediada por células T específicas do VZV podem desempenhar um papel mecanicista na patogênese pós-vacinação.
Como o cenário mundial de COVID-19 é relativamente recente, ainda não existe uma conclusão definitiva sobre a reativação de VZV, a infecção e/ou a vacinação contra a doença. Desta forma, tal relação causal necessita de mais estudos epidemiológicos para confirmação. Porém, a reativação do VZV é um fenômeno bem estabelecido tanto com infecções quanto com outras vacinas (ou seja, esse evento adverso não é específico do COVID-19).