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quarta-feira dez 18, 2024

Novas perspectivas no manejo e tratamento da epilepsia

Escrito por: MDHealth em 25 de abril de 2023

5 min de leitura

Autores: Abner Judson Pereira Torres e Michelle Yumi Ishida Rodrigues

O EpiPick é uma plataforma que auxilia na escolha do melhor fármaco para o tratamento da epilepsia, de acordo com as características do paciente. Neste texto, Dra. Isabella D’Andrea, neurologista especialista em epilepsia, que participou do processo de tradução do EpiPick, nos dá algumas percepções acerca da importância deste trabalho para os médicos brasileiros, além de comentar sobre a utilização da plataforma para perfis mais desafiadores de pacientes

A epilepsia é caracterizada pela hiperatividade neuronal e circuitos cerebrais que levam a descargas elétricas excessivas e sincrônicas. Esse fenômeno pode ser originado em pontos específicos de um hemisfério cerebral (crises de início focal) ou ter origem em 2 ou mais pontos que envolvam ambos os hemisférios cerebrais (crises de início generalizado). De acordo com a International League Against Epilepsy (ILAE), há seis grupos etiológicos possíveis para as epilepsias: genético, estrutural, infeccioso, metabólico, imune e desconhecido. Pesquisas atuais estimam que cerca de 70% dos casos atingem controle das crises em monoterapia; cerca de 20% atingem o controle politerapia, e aproximadamente 10% dos pacientes são classificados como refratários, não obtendo um controle adequado das crises com a terapia farmacológica disponível. 

A falta de controle das crises epilépticas pode trazer prejuízos cognitivos, motores, psicológicos e sociais para os pacientes, o que interfere diretamente na qualidade de vida deles, trazendo consequências que acabam levando a novos transtornos físicos e psicossociais. Com isso, é evidente que o controle das crises e suas repercussões é um ponto de atenção para a comunidade médica. Sabendo que o manejo terapêutico das crises pode ser bastante desafiador, o tratamento do paciente epiléptico deve ser individualizado, necessitando de ajustes de dose frequente, além do controle de efeitos colaterais, fatores estes que interferem diretamente na adesão ao tratamento.  

O tratamento da epilepsia é baseado principalmente no uso de fármacos anticrise. Atualmente, contamos com cerca de 20 opções de drogas para o tratamento da doença, cada uma apresentando vantagens e desvantagens. Dessa forma, torna-se necessário levar em consideração alguns parâmetros no momento da escolha do tratamento, sendo o principal deles o tipo de epilepsia do paciente, mas também as variações clínicas, além da idade, comorbidades e outras medicações em uso.  

Neste sentido, alguns médicos, principalmente aqueles não especialistas, podem ter dificuldades no momento da classificação e diagnóstico do paciente, aumentando a possibilidade de uma escolha terapêutica menos assertiva.  

Com o objetivo de facilitar o diagnóstico e o manejo clínico da epilepsia, foi criado o EpiPick, uma plataforma que, por meio de um algoritmo de inteligência artificial, auxilia na identificação do tipo de epilepsia apresentada pelos pacientes, além de fornecer auxílio na eleição do melhor fármaco para cada caso específico. Segundo a Dra. Isabella D’Andrea, neurologista que participou do processo de tradução da plataforma “A escolha de uma medicação anticrise envolve uma série de variáveis. Em pacientes em idade fértil com comorbidades, por exemplo, a plataforma pode ajudar bastante na melhor escolha.” 

A plataforma foi inicialmente elaborada em inglês por pesquisadores renomados da área, entretanto, este fator limitava a sua utilização por um maior número de neurologistas brasileiros. A plataforma então foi traduzida e adaptada para o português na sua atualização de junho de 2022. Essa iniciativa foi realizada por neurologistas e epileptólogos brasileiros de renome.  

“Sua tradução permite maior agilidade e adequação das perguntas culturalmente para o dia a dia do médico, além de permitir seu uso para aqueles que não dominam o inglês.” diz Dra. Isabella D’Andrea. 

Essa plataforma apresenta um algoritmo inteligente, que aponta a melhor escolha terapêutica de acordo com o perfil do paciente. No caso de pacientes com epilepsias classificadas como mioclônicas, por exemplo, o levetiracetam é apontado no grupo das escolhas terapêuticas preferenciais pela ferramenta. Segundo Dra. Isabella D’Andrea, especialista em epilepsia, para que novos usuários consigam ter o aproveitamento máximo das funcionalidades da plataforma é recomendado “Conhecer previamente a ferramenta e identificar qual as principais variáveis devem ser avaliadas para que possa coletar durante a anamnese. É claro que é possível refazer então caso seja necessário ou percebido algo diferente não tem problema.”  

Como o levetiracetam vem conquistando cada vez mais seu espaço, vale ressaltarmos algumas de suas principais características. Este fármaco, já bastante conhecido e consolidado no meio médico, possui propriedades antiepilépticas e liga-se especificamente à proteína A2 da vesícula sináptica (SV2A – Synaptic Vesicle Protein 2A), interferindo na exocitose e liberação do neurotransmissor na fenda sináptica. Esse fármaco, quando comparado a outros antiepilépticos como o ácido valproico e a carbamazepina, é novo, uma vez que foi introduzido no mercado no ano 2015, já bastante estabelecido na literatura como seguro e eficaz para crianças e adultos com epilepsia, sendo usado em monoterapia ou como terapia adjuvante. 

Alguns dos diferenciais dessa droga é com relação ao perfil farmacocinético favorável, poucos efeitos colaterais como sonolência, astenia e tontura, tendo como raro os efeitos adversos mais graves como rash e plaquetopenia, além de apresentar mínima a nenhuma interação medicamentosa com outros fármacos. Todas estas características fizeram com que essa droga se tornasse referência no tratamento sendo atualmente comercializada em mais de 50 países de forma ampla e consolidada.  

O levetiracetam é comercializado hoje em diversas apresentações, estando disponível em marcas com apresentação de 250mg e 750mg ou com apresentação de 500mg e 1000mg. Entretanto, é usualmente preferencial que o paciente consiga manter o fabricante do seu medicamento, do início ao fim do tratamento, respeitando a individualidade da velocidade de titulação de cada paciente. Sendo assim, após o recente lançamento de uma nova opção de marca   acrescentando a apresentação de 500mg de levetiracetam, agora é possível realizar o escalonamento da dose do levetiracetam (250mg, 500mg, 750mg) de acordo com a resposta de eficácia e/ou relatos do paciente, dentro de um mesmo fabricante. 

 

Apoio educacional:

Referências

  1. Löscher W, Potschka H, Sisodiya SM, Vezzani A. Drug Resistance in Epilepsy: Clinical Impact, Potential Mechanisms, and New Innovative Treatment Options. Pharmacol Rev. 2020 Jul;72(3):606-638. doi: 10.1124/pr.120.019539. PMID: 32540959; PMCID: PMC7300324.BRASIL.  

  2. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Protocolo clínico e diretrizes terapêuticas: epilepsia. Brasília: Ministério da Saúde, 2018.  

  3. Ortiz de la Rosa JS, et al., Efficacy of lacosamide in children and adolescents with drug-resistant epilepsy and refractory status epilepticus: A systematic review. Seizure. 2018 Mar;56:34-40. doi: 10.1016/j.seizure.2018.01.014. Epub 2018 Feb 8. PMID: 29428899. 

  4. Asadi-Pooya AA, et al., A pragmatic algorithm to select appropriate antiseizure medications in patients with epilepsy. Epilepsia. 2020 Aug;61(8):1668-1677. doi: 10.1111/epi.16610. Epub 2020 Jul 22. PMID: 32697354. 

  5. Cereghino JJ, Biton V, Abou-Khalil B, Dreifuss F, Gauer LJ, Leppik I. Levetiracetam for partial seizures: results of a double-blind, randomized clinical trial. Neurology. 2000 Jul 25;55(2):236-42. doi: 10.1212/wnl.55.2.236. PMID: 10908898. 

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