Matéria publicada na revista “Brain & Life”, por Gina Shaw, apresenta um ensaio sobre como a música pode ser revolucionária para a memória em casos de demência
A música é algo revolucionário em diversos fenômenos neurológicos, sendo muito explorada pelos neurologistas. Oliver Sacks relata em seu livro que a música fica nos gânglios da base e cerebelo, áreas raramente afetadas por AVC, e é como se fosse um tesouro escondido dentro do cérebro
Existem vários relatos de pacientes com demência que são incapazes de falar, porém conseguem cantar. O caso de Tony Bennett é um deles. Tony é um cantor com mais de 70 anos de carreira, que foi diagnosticado com doença de Alzheimer (DA). Bennett continuou praticando o canto com suas músicas diariamente e mesmo já tendo sido diagnosticado com DA, há 5 anos, conseguiu apresentar um show ao lado de Lady Gaga.
A música em todas as suas formas desperta, estimula e organiza diversas áreas do cérebro. Estudos de imagem mostraram que existe uma área de convergência no córtex pré-frontal medial – a região que guarda e recupera memórias. Segundo alguns estudos, esta região é muito ativada quando ouvimos alguma música importante para nós.
Músicas que possuem um componente emocional forte, remetendo a pessoas, lugares e épocas, fazem com que as pessoas as escutem muitas vezes ao longo da vida, o que só reforça o processo de memória.
Um estudo publicado na Brain em 2015, comparou exames de imagem de pessoas saudáveis e de pessoas com DA, e foi observado que a área na qual a música é processada é muito semelhante nos dois pacientes, sendo no paciente com DA com poucos danos.
Outros estudos demonstram que os caminhos da memória visual e da linguagem vão sendo lesados logo no começo do desenvolvimento da doença, entretanto programas musicais personalizados podem manter o cérebro ativo, especialmente para aqueles pacientes que estão perdendo o contato com o seu redor.
A criação do programa Música e Memória (Music & Memory, Mineola, NY) é uma prova disso. Eles criaram listas de reprodução para serem tocadas em casas de repouso, comprovando que a música diminui o uso de remédios para ansiedade, antipsicóticos e antidepressivos, entre os moradores, além de diminuir comportamentos agressivos e sintomas depressivos.
Sabendo que a música é tão poderosa para pessoas com demência, para tirar melhor proveito dela é recomendado seguir alguns padrões:
- Tornar pessoal: escolha uma música que teve um significado importante entre a faixa dos 10 a 30 anos;
- Interação: não basta só colocar a música, é preciso interagir com ela, ou seja, cantar, bater palma, bater os pés, dançar entre outros;
- Incorporar na rotina: tente colocar a música várias vezes na semana, mas cuidado para não saturar.