Dr. Michael Gibson* e Dr. Joo-Yong Hah # os achados de 5 anos do estudo FAME 3. Os dados deste estudo oferecem insights valiosos sobre a eficácia da intervenção coronariana percutânea (ICP) guiada por reserva de fluxo fracionado (FFR) em comparação com a cirurgia de revascularização miocárdica (CRM) em pacientes com doença arterial coronariana. Para mais detalhes, acesse o link e confira o conteúdo completo!
* Médico Cardiologista Intervencionista, Criador do site clinicaltrialresults.org, Fundador do WikiDoc.org e WikiPatient.org e Correspondente Médico-Chefe do American College of Cardiology
#Médico Cardiologista Intervencionista, Professor da Stanford Medicine, Editor Associado do Journal of the American College of Cardiology, Circulation, e JACC Cardiovascular Interventions
Com os avanços nas técnicas de revascularização e na terapia medicamentosa otimizada, os desfechos de longo prazo após intervenção coronariana percutânea (ICP) ou cirurgia de revascularização miocárdica (CRM) vêm sendo reavaliados. A análise final pré-especificada do estudo FAME 31 (Fractional Flow Reserve versus Angiography for Multivessel Evaluation), apresentada pelo Dr. William Fearon no ACC 2025, teve como objetivo comparar a efetividade dessas estratégias em pacientes com doença arterial coronariana triarterial, sem envolvimento do tronco da coronária esquerda.
O estudo multicêntrico, randomizado e aberto incluiu 1.500 pacientes recrutados em 48 centros da Europa, América do Norte, Austrália e Ásia. A maioria dos participantes apresentava características clínicas complexas, incluindo cerca de 30% com diabetes, 40% com síndrome coronariana estável, 20% com oclusão total crônica (CTO) e dois terços com lesões em bifurcação. O escore SYNTAX médio foi de 26, semelhante ao estudo SYNTAX original. Mais de 90% dos pacientes faziam uso de estatinas e antiagregantes, e mais de 70% estavam em betabloqueadores e inibidores da ECA ou bloqueadores do receptor de angiotensina.
A análise dos desfechos clínicos duros após cinco anos — morte, infarto do miocárdio (IAM) ou acidente vascular cerebral (AVC) — não mostrou diferença estatisticamente significativa entre ICP guiada por reserva de fluxo fracionado (FFR) e CRM (16,0% versus 14,1%; hazard ratio 1,16; IC 95% 0,89–1,52; p=0,27). Uma análise de landmark revelou que não houve acúmulo progressivo de benefício com a CRM após o primeiro ano, com curvas de eventos paralelas até o quinto ano.
Os desfechos secundários mostraram mortalidade total idêntica entre os grupos (7,2%), uma taxa discretamente menor de AVC na ICP (1,5% versus 2,4%; sem significância estatística) e uma maior incidência de IAM no grupo ICP (8,0% versus 5,1%; HR 1,57; IC 95%: 1,04–2,36). A necessidade de nova revascularização foi significativamente maior no grupo ICP (16,1% versus 8,0%).
Esses dados reforçam que, em uma população tratada com stents farmacológicos de última geração, ICP guiada por FFR e terapia médica otimizada pode oferecer resultados semelhantes à CRM em termos de eventos cardiovasculares maiores. Embora a CRM ainda se destaque pela menor taxa de infarto e necessidade de reintervenção, a escolha da estratégia deve ser individualizada com base no perfil anatômico, risco clínico e preferências do paciente. O estudo também destaca a importância da definição de infarto utilizada, que pode impactar significativamente na interpretação dos desfechos comparativos entre as estratégias.