ACC2025 | Quarta sessão de Late Breaking Clinical Trials: principais insights - MDHealth - Educação Médica Independente
terça-feira abr 1, 2025

ACC2025 | Quarta sessão de Late Breaking Clinical Trials: principais insights

Escrito por: Plataforma Med.IQ em 31 de março de 2025

3 min de leitura

Diretamente de Chicago, no ACC 2025, o Dr. Pedro Barros* compartilha os principais insights de quatro estudos que se destacaram na sessão de 30/03, com foco em insuficiência cardíaca e terapia intensiva. Para mais detalhes, acesse o link e confira o conteúdo completo! 

* Médico Cardiologista, Senior Trialist do BCRI e Diretor de Ensino e Coordenador da Pós-graduação em Pesquisa Clínica da Med.IQ Academy 

 

Diretamente de Chicago, o Dr. Pedro Barros comenta os destaques da quarta sessão de Late Breaking Clinical Trials do ACC2025, que apresentou quatro estudos – três relacionados à insuficiência cardíaca e um voltado à terapia intensiva.  

O primeiro estudo, MIGHTy-Heart¹, avaliou estratégias de transição de cuidado após internação por insuficiência cardíaca aguda, comparando uma abordagem tradicional com acompanhamento por enfermagem via ligações telefônicas com outra baseada em tecnologia móvel, incluindo teleconsultas e visitas domiciliares. Não houve diferença na taxa de reinternação em 30 dias, e o estudo enfrentou limitações de inclusão e engajamento por conta da pandemia. O dado mais relevante foi a heterogeneidade na resposta de acordo com idade e sexo, semelhante ao que foi observado no estudo nacional MESSAGE-HF², publicado no JAMA Cardiology, no qual o próprio Dr. Pedro participou, testando intervenções com SMS. Em ambos os casos, os resultados sugerem que a escolha da estratégia de seguimento deve considerar o perfil sociodemográfico do paciente. 

O segundo estudo, FRESH UP³, investigou a prática comum de restrição hídrica em pacientes com insuficiência cardíaca, algo não definido com clareza pelas diretrizes atuais. Foram avaliados pacientes em classe funcional II e III (85% em classe II), comparando a ingestão restrita (1.500 mL/dia) com uma abordagem mais liberal (sem excesso de fluidos, mas sem restrição formal). Não houve benefício em termos de qualidade de vida, indicando que a restrição hídrica rotineira não deve ser recomendada para pacientes em classe funcional II, embora ainda possa ser necessária em pacientes mais graves (classe IV ou com hiponatremia), que não foram incluídos no estudo. 

O terceiro estudo teve foco em terapia intensiva e comparou a oximetria de pulso com a gasometria arterial na avaliação da oxigenação. A diferença entre os métodos foi pequena, e, surpreendentemente, a menor discrepância ocorreu em pacientes com pele mais escura. De forma geral, a saturação por oximetria tende a estar ligeiramente abaixo da gasometria, mas sem risco significativo de falsos negativos para hipoxemia – o que reforça a segurança do método na prática clínica. 

O último trabalho da sessão foi o FAIR-HF2, que avaliou a reposição de ferro em pacientes com insuficiência cardíaca e deficiência de ferro, por meio de um estudo controlado por placebo. O trial foi desenhado com três desfechos primários, o que exigiu correção estatística mais rígida e acabou resultando em um desfecho neutro, embora um dos critérios isoladamente tenha atingido significância. O autor destacou que o tamanho amostral limitado e a perda de aderência ao tratamento ao longo do tempo podem ter comprometido os resultados isolados do estudo. No entanto, uma meta-análise com dados individuais, apresentada pelo próprio autor, mostrou benefícios consistentes da reposição de ferro na melhora da qualidade de vida e capacidade funcional, além de redução de hospitalização e mortalidade cardiovascular como desfecho composto.  

Em resumo, a sessão trouxe estudos que, apesar de não mudarem a conduta clínica, contribuem para consolidar práticas já discutidas nas diretrizes e ressaltam a importância da individualização da abordagem terapêutica, especialmente em insuficiência cardíaca. 

A análise completa de cada um desses estudos será aprofundada ao longo do congresso e na LIVE pós-ACC 2025, que será transmitida no nosso canal. Acompanhe a cobertura em tempo real pelo grupo CardioUpdate, na Med.IQ, o conhecimento vem direto da fonte.   

Referências

  1. Masterson Creber R, Daniels B, Reading Turchioe M, et al. Comparative effectiveness of mobile integrated health versus a transitions of care coordinator in patients with heart failure: results from the MIGHTy-Heart trial. Abstract presented at: ACC.25; March 30, 2025; Chicago, IL. Disponível em: Heart Failure Home Visit Model Helps Some Women Avoid Readmission: MIGHTy-Heart. Acesso em: 21/03/2025. 

  2. Rohde LE, Rover MM, Hoffmann Filho CR, Rabelo-Silva ER, Silvestre OM, Martins SM, et al. Multifaceted Strategy Based on Automated Text Messaging After a Recent Heart Failure Admission: The MESSAGE-HF Randomized Clinical Trial. JAMA cardiology. 2024 Jan;9(2):105–13. doi: 10.1001/jamacardio.2023.4501. 

  3. Herrmann JJ, Brunner-La Rocca HP, Baltussen LEHJM, Beckers-Wesche F, Bekkers SCAM, Bellersen L, et al. Liberal fluid intake versus fluid restriction in chronic heart failure: a randomized clinical trial. Nature Medicine. 2025 Mar 30. doi: doi.org/10.1038/s41591-025-03628-4. 

  4. Anker SD, Karakas M, Mentz RJ, Ponikowski P, Butler J, Khan MS, et al. Systematic review and meta-analysis of intravenous iron therapy for patients with heart failure and iron deficiency. Nature Medicine. 2025 Mar 30. doi:  https://doi.org/10.1038/s41591-025-03671-1.