O quê?
O estudo OCTOBER (Optical Coherence Tomography Optimized Bifurcation Event Reduction) foi um ensaio clínico randomizado, multicêntrico, aberto com adjudicação cega de desfechos, avaliando uma estratégia de intervenção coronária percutânea (ICP) guiada por tomografia de coerência óptica (OCT – optic coherence tomography) versus ICP guiada somente por angioplastia em pacientes com lesões de bifurcação coronária.
Por quê?
Os métodos de imagem intravascular como o OCT e o ultrassom intracoronário podem melhorar os resultados a longo prazo na ICP com stent em lesões coronárias de alta complexidade. Enquanto os estudos anteriores têm mostrado melhora nos resultados angiográficos com OCT, os benefícios do uso dessa técnica em eventos clínicos permanecem incertos.
Como?
O estudo incluiu pacientes com indicação de ICP em lesões de bifurcação com estenose de pelo menos 50% e diâmetro do vaso principal de pelo menos 2,75 mm. Pacientes apresentando ICP no contexto de infarto agudo do miocárdio com supra de ST (IAMCSST) foram excluídos. Os pacientes foram randomizados para uma estratégia de ICP guiada por OCT versus uma estratégia guiada somente por angiografia. No grupo OCT, os objetivos eram uma adequada expansão e aposição do stent com cobertura de toda a extensão da lesão coronária.
O desfecho primário do estudo foi o composto de morte de causa cardíaca, infarto do miocárdio relacionado ao vaso-alvo e necessidade de nova revascularização do vaso-alvo em 2 anos. Os desfechos secundários foram os componentes individuais do desfecho primário, bem como trombose de stent e morte por todas as causas.
Estrutura PICOT | |
Population: | Pacientes com lesão de bifurcação |
Intervention | ICP guiada por OCT |
Control: | ICP guiada por angiografia |
Outcome | Morte CV, infarto ou revascularização |
Time | 2 anos |
E aí?
O estudo incluiu 1201 pacientes, sendo 600 alocados no grupo OCT e 601 no grupo angiografia. A idade média foi de 66 anos, 21% dos pacientes eram do sexo feminino, 17% tinha diabetes e 56% foram incluídos no contexto de uma síndrome coronária aguda (SCA). A lesão tratada foi a bifurcação da artéria descendente anterior (DA) proximal com um ramo diagonal em 70%, enquanto em 19% dos casos a lesão tratada foi bifurcação do tronco da coronária esquerda.
Após dois anos de seguimento, a incidência cumulativa de eventos do desfecho primário foi de 10,1% no grupo OCT versus 14,1% no grupo angiografia (hazard ratio [HR] 0,70; intervalo de confiança [IC] 95% 0,50-0,98; P = 0,035). A redução foi consistente em todos os componentes do desfecho primário. Não houve redução estatisticamente significativa de mortalidade por todas as causas (2,4% versus 4,0%, respectivamente; HR 0,56; IC 95% 0,28-1,10), nem de trombose de stent (2,1% versus 3,0%, respectivamente; HR 0,70 IC 95% 0,34-1,47). Os resultados do desfecho primário foram consistentes em diversos subgrupos de acordo com características da lesão ou apresentação clínica (SCA versus não SCA). Ocorreu um caso de nefropatia induzida por contraste no grupo OCT versus nenhum no grupo angiografia.
E agora?
A ICP é o método de revascularização coronária mais utilizado no mundo, e seus resultados têm melhorado cada vez mais com a chegada de novas tecnologias, como novos stents e métodos de imagem intravascular. O uso de OCT no presente estudo levou a um resultado favorável em termos de desfechos clínicos comparado à ICP guiada somente por angiografia em pacientes com lesão de bifurcação.
Os resultados do estudo OCTOBER podem levar a mudanças das diretrizes em relação à recomendação do uso de OCT. Trata-se de um estudo de tamanho amostral adequado para avaliação de desfechos clinicamente relevantes como infarto relacionado à lesão-alvo. Porém, ao se avaliarem as curvas de sobrevida, existe uma separação imediata após o que seguem paralelas aparentemente sem muita divergência ao longo do seguimento. Isto sugere que o verdadeiro impacto do uso de OCT tenha sido de fato sobre infartos periprocedimento, embora tenha havido uma diferença numérica, mas não estatisticamente significativa, na mortalidade. É possível que isso se explique pelo fato de o procedimento guiado por OCT levar a uma menor necessidade de novas intervenções e também proteger melhor o vaso tratado contra complicações tardias como trombose de stent, muitas das quais levam a eventos fatais.
Em conclusão, o uso da OCT levou a melhores desfechos clínicos em pacientes com lesões coronárias de bifurcação. Este achado sugere que a otimização dos resultados da ICP por meio do OCT pode levar a benefícios bastante expressivos, sendo fortemente recomendado seu uso em casos selecionados de alta complexidade anatômica, como os avaliados neste estudo.