Um consenso das diretrizes clínicas da EASL-EASD-EASO foi apresentado no segundo dia do Congresso European Association for the Study of Diabetes (EASD), onde foram comentadas novas opções de tratamento, formas de evitar desfechos hepáticos e ferramentas diagnósticas
A doença hepática esteatótica associada à disfunção metabólica (MASLD), anteriormente chamada de doença hepática gordurosa não alcoólica (DHGNA), é definida como doença hepática esteatótica (SLD) na presença de fatores de risco cardiometabólicos, quando não há consumo prejudicial de álcool. O espectro da MASLD inclui esteatose, esteato-hepatite associada à disfunção metabólica (MASH, anteriormente NASH), fibrose, cirrose e carcinoma hepatocelular (CHC) relacionado ao MASH.
No segundo dia do Congresso European Association for the Study of Diabetes, foi apresentado um compilado das atuais diretrizes de prática clínica, desenvolvido em conjunto pela European Association for the Study of the Liver (EASL), European Association for the Study of Diabetes (EASD) e European Association for the Study of Obesity (EASO), e que abordou os desafios e as ferramentas de diagnóstico, novas opções de tratamento e recomendações para prevenção de desfechos hepáticos.
As diretrizes estabelecem um consenso e a recomendação para investigação da etiologia da SLD atrelada a testes de fibrose avançado em caso de detecção incidental de esteatose, visando minimizar riscos de desfechos hepáticos e cardiovasculares. No entanto, indivíduos que consomem maiores quantidades de álcool (20-50 g/dia para mulheres e 30-60 g/dia para homens), são classificados em uma categoria diferente, denominada MetALD. Para essa categoria, as recomendações diagnósticas e de tratamento fornecidas para MASLD não são aplicáveis, visto que nesse perfil de pacientes há um maior risco de mortalidade por todas as causas.
Diversos fatores de risco podem contribuir com o desenvolvimento e progressão de MASLD, como obesidade, diabetes mellitus tipo 2 (DM2), hipertensão, tabagismo, entre outros. No entanto, a triagem de MASLD com fibrose hepática é fortemente recomendada em indivíduos com DM2, obesidade abdominal e testes de função hepática anormais. Para indivíduos com suspeita de MASLD, escores derivados de biomarcadores sanguíneos e elastografia devem ser usados para excluir a presença de fibrose avançada
Após o diagnóstico inicial de MASLD, recomenda-se exames laboratoriais e físicos para comorbidades relacionadas. Concomitantemente deve-se realizar o rastreamento de câncer extra-hepático de acordo com as diretrizes atuais, levando em consideração a presença de obesidade e diabetes tipo 2 como fatores de risco para neoplasias extra-hepáticas. O monitoramento do carcinoma hepatocelular também é indicado para indivíduos com cirrose relacionada à MASLD.
Com relação ao tratamento farmacológico, o consenso é a recomendação de que o uso de inibidores do cotransportador de sódio-glicose-2 (SGLT2) e metformina são seguros para indivíduos com MASLD, devendo ser utilizados conforme suas respectivas indicações, como no diabetes tipo 2, insuficiência cardíaca e doença renal crônica, não havendo evidências científicas suficientes para recomendar o uso dessas classes medicamentosas para tratamento de MASH.
Outras orientações específicas foram abordadas nas diretrizes e as recomendações em constante evolução destacam a importância de um manejo multidisciplinar e individualizado, considerando as particularidades de cada paciente e o impacto da MASLD não apenas na saúde hepática, mas também nos desfechos metabólicos e cardiovasculares.