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terça-feira mar 25, 2025

Month in Review na Cardiologia – Destaques de Fevereiro

Escrito por: mariana queiroz em 18 de março de 2025

4 min de leitura

No Month in Review de fevereiro de 2025, os doutores Remo Furtado¹ e Pedro Barros² discutiram as principais atualizações da diretriz americana de síndrome coronariana aguda. Quer saber mais? Acesse e confira na íntegra!  

  1. Médico Cardiologista, Coordenador da Pós-graduação em Pesquisa Clínica da Med.IQ Academy e Professor Colaborador da Faculdade Diretor de Pesquisa do BCRI
  2. Médico Cardiologista, Senior Trialist do BCRI, Diretor de Ensino e Coordenador da Pós-graduação em Pesquisa Clínica da Med.IQ Academy

 

No Month in Review de fevereiro de 2025, os doutores Remo Furtado e Pedro Barros analisaram as principais atualizações da diretriz americana de síndrome coronariana aguda (SCA)¹, destacando mudanças em condutas como antiagregação plaquetária, metas de LDL, uso de beta-bloqueadores, estratégias de intervenção coronária e transfusão sanguínea. 

Em relação à antiagregação plaquetária, a diretriz classificou o pré-tratamento com antiagregantes como classe 2B para casos tempo até estratificação invasiva > 24 horas. Já a preferência do tipo de antiplaquetário depende da estratégica, sendo preferível o uso de prasugrel e ticagrelor em adição ao AAS nosa casos submetidos à intervenção coronária percutânea. O Dr. Pedro Barros destacou sua experiência na coordenação de um pronto-socorro de cardiologia em São Paulo, onde implementou protocolos baseados em evidências para otimizar o tempo até o cateterismo de pacientes com síndrome coronariana sem supra, posteriormente publicado nos Arquivos Brasileiros de Cardiologia  ² em 2016. Já na abordagem da parada cardíaca extra-hospitalar sem supra de ST, o cateterismo imediato na ausência de SCA com elevação de ST foi classificado como classe 3, corroborando com uma meta-análise recente³ de autoria do Dr. Remo, que demonstrou ausência de benefício na mortalidade com o tratamento invasivo precoce, além de um possível efeito prejudicial em mulheres. 

Na prevenção secundária, a diretriz reduziu a meta de LDL para menos de 55 mg/dL (classe 2A), alinhando-se às recomendações europeia e brasileira. O estudo NEAT, realizado no Brasil, revelou que menos de 9% dos pacientes atingem essa meta e, mesmo entre aqueles em uso de estatinas de alta potência, menos de 30% estavam na meta de LDL-colesterol. Este dado de mundo real reforça a necessidade de ezetimiba e terapias adicionais para um controle mais eficaz do colesterol e redução do risco cardiovascular. 

Em relação aos beta-bloqueadores no infarto com fração de ejeção preservada, apesar de o estudo REDUCE-AMIevidenciar que não houve benefício em iniciar beta-bloqueadores em pacientes com fração de ejeção acima de 50%, a diretriz americana manteve a recomendação do uso rotineiro de beta-bloqueadores em pacientes sem contra-indicações, sem diferenciar claramente os subgrupos que poderiam ser poupados dessa abordagem. O Dr. Pedro reforça que o ponto central não é que o beta-bloqueador seja prejudicial, mas sim que nem todos os pacientes precisariam iniciar essa terapia de forma sistemática e que futuras diretrizes podem ter posicionamentos diferentes, especialmente se os dados dos estudos em andamento confirmarem os achados do REDUCE-AMI. 

Na intervenção coronária percutânea, a diretriz classificou como classe 1 o uso de imagem intracoronária (OCT/IVUS) em angioplastias complexas, com base em diversos estudos publicados nos últimos anos, e classe 2A o uso do Impella no choque cardiogênico, apoiado pelo estudo dinamarquês DanGer Shock, que demonstrou redução da mortalidade. No entanto, os especialistas alertaram para desafios na implementação no SUS, devido ao custo e à necessidade de experiência técnica para garantir segurança e eficácia, especialmente do Impella. 

Outro ponto relevante foi a inclusão de uma recomendação sobre transfusão sanguínea em pacientes com infarto do miocárdio, estabelecendo hemoglobina-alvo de 10 g/dL como classe 2B, mudança baseada no MINT⁷,⁸, liderado pelo BCRI no Brasil e publicado no New England Journal of Medicine 

Por fim, a diretriz trouxe uma mudança significativa na dupla antiagregação plaquetária (DAPT), recomendando a opção de uma estratégia de redução do risco de sangramento com a suspensão da aspirina após 1 a 3 meses, mantendo apenas ticagrelor. Esse tema ainda gera discussões, e uma Network Meta-Analysis em que o Dr. Renato Lopes foi um dos autores apontou que três meses de DAPT equilibram eficácia e segurança, enquanto um mês pode ser uma opção para pacientes com mais alto risco de sangramento. No entanto, não há evidência robusta para suspender precocemente a aspirina quando se usa clopidogrel, razão pela qual essa estratégia recebeu recomendação 2B. O estudo NEOMINDSET ¹⁰ investigará a retirada da aspirina já na fase aguda, podendo redefinir a prática clínica futuramente. 

Para se manter atualizado sobre as principais mudanças e discussões em diretrizes clínicas, o Guidelines Academy, oferecido pela Med.IQ Academy, é um espaço essencial para atualização médica baseada em evidências em que você tem acesso a uma plataforma única que integra de forma prática e didática as diretrizes de todas as sociedades de cardiologia. Além disso, com uma abordagem interativa e dinâmica, o programa promove debates com especialistas, análises aprofundadas e atualização contínua, garantindo que os profissionais estejam sempre alinhados às melhores práticas globais

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Referências

  1. Rao SV, O’Donoghue ML, Ruel M, Rab T, Tamis-Holland JE, Alexander JH, et al. 2025 ACC/AHA/ACEP/NAEMSP/SCAI Guideline for the Management of Patients With Acute Coronary Syndromes: A Report of the American College of Cardiology/American Heart Association Joint Committee on Clinical Practice Guidelines. Circulation. 2025 Feb 27. doi: 10.1016/j.jacc.2024.11.009 

  2. Silva PGM de B e, Ribeiro HB, Baruzzi AC do A, Silva EER da. When is the Best Time for the Second Antiplatelet Agent in Non-St Elevation Acute Coronary Syndrome? Arquivos Brasileiros de Cardiologia. 2016. doi: 10.5935/abc.20160042

  3. Hamidi F, Anwari E, Spaulding C, Hauw-Berlemont C, Vilfaillot A, Viana-Tejedor A, Kern KB, Hsu CH, Bergmark BA, Qamar A, Bhatt DL, Furtado RHM, et al. Early versus delayed coronary angiography in patients with out-of-hospital cardiac arrest and no ST-segment elevation: a systematic review and meta-analysis of randomized controlled trials. Clinical Research in Cardiology. 2023 Jul 27;113(4):561–9. . doi 10.1007/s00392-023-02264-7

  4. de Barros E Silva PGM, do Nascimento CT, Pedrosa RP, Nakazone MA, do Nascimento MU, de Araújo Melo L, Júnior OLS, Zimmermann SL, de Melo RMV, Bergo RR, Precoma DB, Tramujas L, Lima EG, Dantas JMM, do Amaral Baruzzi AC, Flumignan RLG, de Oliveira Paiva MSM, Gowdak LHW, de Carvalho PN, de Figueiredo Neto JA, Silvestre OM, Fioranelli A, Vieira RD’, Horak ACP, Miyada DHK, Kojima FCS, de Oliveira JS, de Oliveira Silva L, Pavanello R, Ramacciotti E, Lopes RD; NEAT Investigators. Primary results of the brazilian registry of atherothrombotic disease (NEAT). Sci Rep. 2024 Feb 20;14(1):4222. doi: 10.1038/s41598-024-54516-9. 

  5. Yndigegn T, Lindahl B, Mars K, Alfredsson J, Benatar J, Brandin L, et al. Beta-Blockers after Myocardial Infarction and Preserved Ejection Fraction. The New England Journal of Medicine.2024 Apr 7;390(15). doi: 10.1056/NEJMoa2401479

  6. Møller JE, Engstrøm T, Jensen LO, Eiskjær H, Mangner N, Polzin A, et al. Microaxial Flow Pump or Standard Care in Infarct-Related Cardiogenic Shock. The New England Journal of Medicine. 2024 Apr 7;390(15). doi:10.1056/NEJMoa2312572

  7. Carson JL, Brooks MM, Hébert PC, Goodman SG, Bertolet M, Glynn SA, Chaitman BR, Simon T, Lopes RD, Goldsweig AM, DeFilippis AP, Abbott JD, Potter BJ, Carrier FM, Rao SV, Cooper HA, Ghafghazi S, Fergusson DA, Kostis WJ, Noveck H, Kim S, Tessalee M, Ducrocq G, de Barros E Silva PGM, Triulzi DJ, Alsweiler C, Menegus MA, Neary JD, Uhl L, Strom JB, Fordyce CB, Ferrari E, Silvain J, Wood FO, Daneault B, Polonsky TS, Senaratne M, Puymirat E, Bouleti C, Lattuca B, White HD, Kelsey SF, Steg PG, Alexander JH; MINT Investigators. Restrictive or Liberal Transfusion Strategy in Myocardial Infarction and Anemia. N Engl J Med. 2023 Dec 28;389(26):2446-2456. doi: 10.1056/NEJMoa2307983.

  8. DeFilippis AP, Abbott JD, Herbert BM, Bertolet MH, Chaitman BR, White HD, Goldsweig AM, Polonsky TS, Gupta R, Alsweiler C, Silvain J, de Barros E Silva PGM, Hillis GS, Daneault B, Tessalee M, Menegus MA, Rao SV, Lopes RD, Hébert PC, Alexander JH, Brooks MM, Carson JL, Goodman SG; MINT Investigators. Restrictive Versus Liberal Transfusion in Patients With Type 1 or Type 2 Myocardial Infarction: A Prespecified Analysis of the MINT Trial. Circulation. 2024 Dec 3;150(23):1826-1836. doi: 10.1161/CIRCULATIONAHA.124.071208.

  9. Carvalho PEP, Gewehr DM, Nascimento BR, Melo L, Burkhardt G, Rivera A, Braga MAP, Guimarães PO, Mehran R, Windecker S, Valgimigli M, Angiolillo DJ, Bhatt DL, Sandoval Y, Chen SL, Stone GW, Lopes RD. Short-Term Dual Antiplatelet Therapy After Drug-Eluting Stenting in Patients With Acute Coronary Syndromes: A Systematic Review and Network Meta-Analysis. JAMA Cardiol. 2024 Dec 1;9(12):1094-1105. doi: 10.1001/jamacardio.2024.3216. PMID: 39382876; PMCID: PMC11581547. 

  10. Guimarães PO, Franken M, Tavares CAM, Silveira FS, Antunes MO, Bergo RR, Joaquim RM, Hirai JCS, Andrade PB, Pitta FG, Mariani J Jr, Nascimento BR, de Paula JET, Silveira MS, Costa TAO, Dall’Orto FTC, Serpa RG, Sampaio FBA, Ohe LN, Mangione FM, Furtado RHM, Sarmento-Leite R, Monfardini F, Assis SRL, Nicolau JC, Sposito AC, Lopes RD, et al. P2Y12 inhibitor monotherapy versus dual antiplatelet therapy in patients with acute coronary syndromes undergoing coronary stenting: rationale and design of the NEOMINDSET Trial. EuroIntervention. 2023 Jul 1 [cited 2024 Nov 25];19(4):e323–9. doi: 10.4244/EIJ-D-23-00125