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quarta-feira dez 18, 2024

Sistemas eletrônicos de distribuição de nicotina para cessação do tabagismo

Escrito por: Samuel Moscavitch em 22 de fevereiro de 2024

3 min de leitura

Electronic Nicotine-Delivery Systems for Smoking Cessation 

 

O quê? 

Um ensaio clínico aberto, randomizado e controlado sobre Eficácia, Segurança e Toxicologia dos Sistemas Eletrônicos de Administração de Nicotina como Auxílio para Cessação do Tabagismo (ESTxENDS) realizado para avaliar a eficácia e segurança dos cigarros eletrônicos (e-cigarettes), além do aconselhamento padrão, em comparação com controle apenas com aconselhamento padrão, na abstinência ao tabagismo em 6 meses. 

 

Por quê? 

Cigarros eletrônicos são sistemas eletrônicos de administração de nicotina que fornecem níveis mais baixos de compostos tóxicos do que cigarros de tabaco convencionais. Seu uso na cessação do tabagismo está associado a uma redução na exposição à nicotina e outras substâncias relacionadas ao tabaco; no entanto, poucos ensaios randomizados e controlados foram realizados a fim de confirmar a eficácia dessa abordagem.   

 

Como?  

Este é um estudo aberto, randomizado e controlado, conduzido entre 2018 e 2021, em cinco locais na Suíça, no qual adultos fumantes com consumo de >5 cigarros de tabaco por dia e que planejavam parar de fumar foram aleatoriamente designados para um grupo de intervenção, que recebeu gratuitamente e-cigarros e líquidos de refil (e-líquidos), aconselhamento padrão para parar de fumar e terapia de reposição de nicotina opcional (não gratuita), ou a um grupo de controle, que recebeu aconselhamento padrão e um voucher, que poderia ser usado para qualquer finalidade, incluindo terapia de reposição de nicotina. O desfecho primário foi a abstinência contínua de fumar (validado bioquimicamente) em 6 meses.  

 

Estrutura PICOT 
Population:  adultos fumantes consumindo >5 cigarros de tabaco por dia 
Intervention  e-cigarros 
Control:  aconselhamento 
Outcome  abstinência contínua de fumar (validado bioquimicamente) 
Time   6 meses 

 

 

E aí? 

Um total de 1.246 participantes foram submetidos à randomização, sendo 622 participantes designados ao grupo intervenção e 624 ao grupo controle. O percentual de participantes em abstinência contínua (validada) de fumar tabaco foi 28,9% (180 de 622) no grupo intervenção e 16,3% (102 de 624) no grupo controle (razão de risco [RR]: 1,77; IC [intervalo de confiança] 95% 1,43 – 2,20). O percentual de participantes que se abstiveram de fumar nos 7 dias anteriores à consulta de 6 meses foi de 59,6% no grupo de intervenção e 38,5% no grupo de controle. No entanto, o percentual que se absteve de qualquer uso de nicotina foi de 20,1% no grupo de intervenção e 33,7% no grupo controle. 

 

E agora? 

O uso de e-cigarros associado ao tratamento padrão com aconselhamento e com o possível uso da terapia de reposição de nicotina resultou em maior abstinência de fumar comparado a apenas aconselhamento padrão; ainda que muitos daqueles que se abstiveram de fumar cigarros continuaram a usar e-cigarros. A intervenção resultou em mais eventos adversos (43.7% vs 36,7%, respectivamente), mas sem maior gravidade. 

Dentre as limitações desse estudo podemos considerar: primeiro, por ser um estudo aberto, os participantes estavam cientes de estar no grupo de intervenção, o que poderia gerar descontentamento no grupo controle. A iniciativa do estudo em oferecer um voucher com valor financeiro para uso de terapia de reposição de nicotina poderia ser um motivador ainda que no grupo controle. Além disso, os e-cigarros e e-líquidos foram oferecidos de forma gratuita, mas a terapia de reposição de nicotina não. O estudo não teve como objetivo comparar o uso de e-cigarros à terapia de reposição de nicotina. Terceiro, o fornecimento gratuito de e-líquidos aos participantes ocorreu apenas ao longo de 6 meses até a avaliação final. Os resultados apresentados não incluem o sucesso de parar de fumar de maneira sustentada, mas deveria ser avaliado em visitas subsequentes de 12, 24 e 60 meses. Quarto, dados incompletos sobre a validação bioquímica de cessação do tabagismo poderiam ter subestimado a diferença ou o risco relativo entre os grupos, já que participantes com dados faltantes foram categorizados como não abstinentes de fumar. Quinto, o estudo foi realizado no contexto de um serviço ambulatorial de saúde na Suíça, devendo-se considerar as diferenças ao comparar a realidade de outros serviços de saúde. 

A inclusão do uso de e-cigarros em conjunto ao aconselhamento padrão para parar de fumar resultou em maior abstinência do uso de tabaco entre fumantes quando comparado ao aconselhamento padrão isoladamente. 

Referência

  1. Auer R, Schoeni A, Humair JP, Jacot-Sadowski I, Berlin I, Stuber MJ, Haller ML, Tango RC, Frei A, Strassmann A, Bruggmann P, Baty F, Brutsche M, Tal K, Baggio S, Jakob J, Sambiagio N, Hopf NB, Feller M, Rodondi N, Berthet A. Electronic Nicotine-Delivery Systems for Smoking Cessation. N Engl J Med. 2024 Feb 15;390(7):601-610. doi: 10.1056/NEJMoa2308815. PMID: 38354139. 

Sobre o autor

Samuel Moscavitch

Mestre em Ciências Cardiovasculares pela UFF – Universidade Federal Fluminense; Cardiologista pela UFF – Universidade Federal Fluminense; Doutor em Biologia Celular e Molecular com ênfase em Imunologia pelo IOC/Fiocruz; Pós-doutor em Doenças Cardiovasculares, Inflamação e Aterosclerose pela Harvard Medical School e pelo Brigham and Women’s Hospital; Pesquisador Colaborador do Instituto Nacional de Cardiologia de Laranjeiras.

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