TRISCEND II: A Eficácia da Substituição Transcateter da Válvula Tricúspide em Pacientes com Regurgitação Tricúspide Grave

Raphael Boesche Guimarães¹; Ricardo Santos Holthausen¹; Pedro Barros² e Remo Furtado³

1- Médico cardiologista e Sócio Fundador da CardioRReview 

2- Senior Trialist BCRI, Diretor de Ensino e Coordenador da Pós-graduação em Pesquisa Clínica da Med.IQ Academy 

3- Médico Cardiologista, Diretor de Pesquisa BCRI/Med.IQ e Professor Colaborador FMUSP  

 

Contexto do Estudo 

O quê? 

O estudo TRISCEND II é um ensaio clínico internacional, multicêntrico, que avaliou o efeito da substituição transcateter da válvula tricúspide em pacientes com regurgitação tricúspide grave sintomática. Comparou-se o procedimento de substituição valvular com a terapia médica isolada para determinar a eficácia da intervenção. 

 

Por quê? 

A regurgitação tricúspide grave está associada a sintomas debilitantes e a risco aumentado de morte. A opção de tratamento tradicional, como a cirurgia valvular isolada, é raramente realizada e apresenta altas taxas de mortalidade operatória e complicações.

O procedimento transcateter busca oferecer uma alternativa menos invasiva e mais eficaz para melhorar os desfechos clínicos e de qualidade de vida. 

 

Como? 

Estrutura PICOT 

• População: 400 pacientes (45 centros nos EUA e Alemanha) com regurgitação tricúspide severa sintomática ou hospitalização por IC.. 

• Intervenção: Troca transcateter da válvula tricúspide com o sistema EVOQUE (Edwards Lifesciences). 

• Controle: Terapia médica conservadora. 

• Outcome (Desfecho Primário): Desfecho composto hierárquico de mortalidade por qualquer causa, implante de dispositivo de assistência ventricular direita ou transplante cardíaco, intervenção valvular cirúrgica ou percutânea, hospitalização por insuficiência cardíaca, melhora de ao menos 10 pontos no KCCQ-OS, melhora de pelo menos uma classe funcional NYHA, e aumento maior que 30 m na distância de caminhada de 6 minutos. 

• Tempo: 1 ano. 

 

E aí? 

Resultados 

• População do Estudo: Idade média de 79,2 anos; 75,5% mulheres; 94,9% apresentavam fibrilação atrial. 

• Desfecho Primário: A razão de vitórias favorecendo a substituição valvular foi 2,02 (IC 95%, 1,56 a 2,62; P<0,001). 

• Desfechos Secundários: A diferença no desfecho primário foi direcionada principalmente por melhora em parâmetros como KCCQ-OS, classe funcional NYHA, e na caminhada de 6 minutos. 

• Eventos de Segurança: Sangramento maior ocorreu em 15,4% dos pacientes do grupo de substituição e em 5,3% do grupo controle (P=0,003). Novos marcapassos foram implantados em 17,8% e 2,3%, respectivamente (P<0,001). Após 1 ano, no grupo intervenção, 22,6% dos participantes apresentavam IT discreta, 3,8% IT moderada e 0,9% IT importante. 

 

E agora? 

Para pacientes com regurgitação tricúspide importante, a substituição valvular transcateter foi superior à terapia médica isolada no desfecho hierarquizado, principalmente em termos de melhorias em sintomas e qualidade de vida. Entretanto, não houve redução de mortalidade, infarto do miocárdio ou AVC. Além disso, há riscos significativos de eventos periprocedurais, como sangramentos importantes e necessidade de novos marcapassos, que devem ser considerados ao discutir essa opção de tratamento com os pacientes. 

 

Perspectivas Futuras 

Esse estudo sugere que a intervenção transcateter parece ser uma alternativa no tratamento da regurgitação tricúspide importante. No entanto, mais estudos são necessários utilizando desfechos “duros” para avaliar a eficácia desta intervenção e para mitigar os riscos associados ao procedimento.