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sexta-feira nov 22, 2024

Síndrome de Loeys-Dietz

Escrito por: Fabiano de Oliveira Poswar em 4 de junho de 2024

4 min de leitura

Novo estudo demonstra evidência adicional de segurança do procedimento endovascular no tratamento dos aneurismas 

 

O quê? 

No próximo mês de Junho é celebrado o mês da conscientização sobre a síndrome de Loeys Dietz (SLD). Trata-se de uma doença rara do tecido conjuntivo descrita em 2005 com características semelhantes à síndrome de Marfan (SM) – esta, já conhecida desde 1896. A principal complicação da doença se deve à formação de aneurismas da aorta, que podem resultar em dissecção e morte precoce. Assim como na síndrome de Marfan, os pacientes com SLD também apresentam dedos alongados, alta estatura, estrias e deformidades do esterno. Alterações mais específicas da SLD incluem a fenda palatina ou úvula bífida e o aumento do espaçamento entre os olhos (hipertelorismo ocular). Entretanto, nem todos os pacientes apresentam essas características clínicas e o diagnóstico definitivo da SLD depende de uma análise genética. Os genes atualmente reconhecidamente associados a essa condição incluem os do receptor de TGFβ (TGFBR1 e TGFBR2), de isoformas do TGFβ (TGFB2 e TGFB3) e de proteínas da via de sinalização intracelular do TGFβ (SMAD2 e SMAD3).  

Na SLD, assim como na SM, o diagnóstico precoce e o monitoramento regular da doença são importantes para retardar a progressão da doença, além de tratar precocemente aneurismas da aorta. O tratamento da doença inclui o uso de beta-bloqueadores, bloqueadores de receptor de angiotensina e outras medicações para reduzir o estresse hemodinâmico. Entretanto, quando já há a presença de aneurismas, dependo de sua dimensão, podem ser indicado uma intervenção cirúrgica. Nesses casos, normalmente a opção é por uma cirurgia aberta e não por um reparo endovascular. 

 

Por quê? 

As controvérsias sobre a indicação de procedimentos endovasculares (em vez de cirurgias abertas) nos casos de SLD e SM ocorrem porque há preocupações sobre a durabilidade do reparo endovascular e sobre os riscos relacionados à fragilidade da vasculatura. Por se tratarem de condições progressivas, a dilatação tende a continuar mesmo com a realização do reparo e colocação de um stent. Especificamente na SLD, no último consenso internacional, a cirurgia aberta permanece como o tratamento de primeira escolha, sendo os procedimentos endovasculares restritos a situações de emergência (MacCarrick et al., 2014). 

 

Como? 

Foi realizado um estudo de coorte retrospectivo com dados da Society for Vascular Surgery Vascular Quality Initiative – SVS-VQI e incluídos todos os pacientes que realizaram reparo endovascular de aneurisma da aorta torácica (TEVAR) entre 2010 e 2023 (Gomes Mayorga et al., 2024). Pacientes submetidos a procedimentos complexos ou com dados incompletos de história familiar foram excluídos. Ao total 19.340 pacientes foram incluídos, 304 deles com aortopatias genéticas – AG (dos quais 29 com Síndrome de Loeys-Dietz). Os autores compararam os desfechos do procedimento entre pacientes com AG e pacientes com outros aortopatias. 

 

E aí? 

Foi identificado que pacientes com AG tiveram uma mortalidade perioperatória similar ao de pacientes com outras aortopatias (4,6% vs 7,0%; Odds Ratio 1,1 [IC 95% 0,57-1,9]), além de um perfil similar de complicações perioperatórias. Embora uma comparação direta com a cirurgia aberta não pode ser realizada nesse estudo, a mortalidade perioperatória observada foi menor do que o descrito na literatura para a cirurgia aberta em pacientes com doenças do tecido conjuntivo (Keschenau et al., 2017).  Além disso, pacientes com AG submetidos ao TEVAR tiveram uma sobrevida de cinco anos semelhante à de pacientes com outras aortopatias (81% vs 74% ; Odds Ratio 1,02 [IC 95% 0,70-1,5]). Por outro lado, pacientes com AG necessitaram de mais uso de vasopressores pós operatórios (33% vs 27% ; Odds Ratio 1,44 [IC 95% 1,1-1,9]) e transfusões sanguíneas (25% vs 23%; Odds Ratio 1,99 [IC 95% 1,4-2,9]) e tiveram uma taxa de reintervenção em dois anos duas vezes superior (25% vs 13% ; Odds Ratio 1,99 [IC 95% 1,4-2,9]). 

  

E agora? 

O estudo do SVS-VQI fornece uma evidência adicional de que o TEVAR é seguro e eficaz em pacientes com AG, corroborando os resultados animadores do estudo internacional multicêntrico EVICTUS (Olsson et al., 2023) publicado no ano passado e outro estudo recentemente publicado (Nucera et al., 2024). Por sua natureza retrospectiva, porém, alguns fatores confundidores permanecem em relação nos três estudos, incluindo vieses de seleção, diferenças nas técnicas empregadas e a falta de uma comparação direta com a cirurgia aórtica aberta. A SLD também esteve sub representada nos três estudos, comprometendo a generalização dos resultados para pacientes com SLD. Entretanto, espera-se que esses dados resultem na ampliação da indicação do TEVAR a mais pacientes com SLD, que irão se beneficiar de um procedimento menos invasivo. 

Referências

  1. Gomez-Mayorga, J. L., Yadavalli, S. D., Allievi, S., Wang, S. X., Rastogi, V., Straus, S., Mandigers, T. J., Black, J. H., III, Zettervall, S. L., & Schermerhorn, M. L. (2024). National Registry Insights on Genetic Aortopathies and Thoracic Endovascular Aortic Interventions. In Journal of Vascular Surgery. Elsevier BV. https://doi.org/10.1016/j.jvs.2024.05.002 

  2. Keschenau, P. R., Kotelis, D., Bisschop, J., Barbati, M. E., Grommes, J., Mees, B., Gombert, A., Peppelenbosch, A. G., Schurink, G. W. H., Kalder, J., & Jacobs, M. J. (2017). Editor’s Choice – Open Thoracic and Thoraco-abdominal Aortic Repair in Patients with Connective Tissue Disease. In European Journal of Vascular and Endovascular Surgery (Vol. 54, Issue 5, pp. 588–596). Elsevier BV. https://doi.org/10.1016/j.ejvs.2017.07.026 

  3. MacCarrick, G., Black, J. H., III, Bowdin, S., El-Hamamsy, I., Frischmeyer-Guerrerio, P. A., Guerrerio, A. L., Sponseller, P. D., Loeys, B., & Dietz, H. C., III. (2014). Loeys–Dietz syndrome: a primer for diagnosis and management. In Genetics in Medicine (Vol. 16, Issue 8, pp. 576–587). Elsevier BV. https://doi.org/10.1038/gim.2014.11  

  4. Nucera, M., Kreibich, M., Yildiz, M., Berger, T., Kolb, R. K., Kondov, S., Kunzmann, S., Rylski, B., Makaloski, V., Siepe, M., Czerny, M., & Schoenhoff, F. S. (2024). Endovascular aortic repair in patients with Marfan and Loeys–Dietz syndrome is safe and durable when employed by a multi-disciplinary aortic team. In European Journal of Cardio-Thoracic Surgery (Vol. 65, Issue 3). Oxford University Press (OUP). https://doi.org/10.1093/ejcts/ezae069 

  5. Olsson, K. W., Mani, K., Burdess, A., Patterson, S., Scali, S. T., Kölbel, T., Panuccio, G., Eleshra, A., Bertoglio, L., Ardita, V., Melissano, G., Acharya, A., Bicknell, C., Riga, C., Gibbs, R., Jenkins, M., Bakthavatsalam, A., Sweet, M. P., Kasprzak, P. M., … Wanhainen, A. (2023). Outcomes After Endovascular Aortic Intervention in Patients With Connective Tissue Disease. In JAMA Surgery (Vol. 158, Issue 8, p. 832). American Medical Association (AMA). https://doi.org/10.1001/jamasurg.2023.2128 

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