Alterações no Ritmo Circadiano da Pressão Arterial em Pacientes com Neurofibromatose Tipo 1 - MDHealth - Educação Médica Independente
quinta-feira abr 17, 2025

Alterações no Ritmo Circadiano da Pressão Arterial em Pacientes com Neurofibromatose Tipo 1

Escrito por: MDHealth em 15 de abril de 2025

4 min de leitura

Estudo sobre a monitorização ambulatorial da PA sugere padrões non-dipper e riser mesmo em pacientes normotensos, com implicações clínicas relevantes.

 

A Neurofibromatose Tipo 1 (NF1) é uma doença genética rara caracterizada pelo desenvolvimento de tumores no sistema nervoso, conhecidos como neurofibromas, além de outras manifestações cutâneas e neurológicas. Entre as principais causas de morte prematura nesses pacientes estão as doenças cardiovasculares, que podem levar ao surgimento precoce de condições cerebrovasculares, como o acidente vascular cerebral (AVC) hemorrágico, mesmo em indivíduos jovens. Esses eventos, potencialmente fatais, geralmente estão associados à hipertensão e/ou a alterações no padrão circadiano da pressão arterial (PA). Estima-se que cerca de 16% dos pacientes com NF1 apresentem hipertensão. Um estudo com uma coorte de 24 adultos com NF1 investigou a relação entre a doença e a variação circadiana da pressão arterial, por meio da monitorização ambulatorial da pressão arterial (MAPA), revelando possíveis implicações cardiovasculares. 

A pressão arterial normalmente segue um ritmo circadiano, variando de acordo com o ciclo sono-vigília: tende a ser mais elevada durante o dia, quando o corpo está ativo, e reduz cerca de 10–20% durante o sono — fenômeno conhecido como dipping. No entanto, pacientes com NF1 podem apresentar um padrão alterado, no qual a pressão arterial não diminui adequadamente à noite. Quando essa queda noturna é inferior a 10%, os pacientes são classificados como non-dippers, o que pode elevar o risco cardiovascular, já que o coração e os vasos sanguíneos permanecem sob constante pressão. Isso também pode aumentar o risco de lesão de órgãos-alvo, como coração, rins e vasos. Mais preocupante ainda é o padrão riser, caracterizado pelo aumento da PA durante a noite, associado a pior prognóstico para AVCs e eventos cardíacos. 

O estudo analisou pacientes com NF1 identificados por meio de bancos de dados do sistema público de atenção primária e de um hospital universitário na Espanha, sendo 10 homens e 14 mulheres, com idade média de 39,5 anos ± 14 anos. O diagnóstico seguiu os critérios estabelecidos pela conferência do NIH em 1987. Nenhum dos participantes apresentava hipertensão ou cardiopatias congênitas. Para avaliação dos padrões de PA, foi realizada uma monitorização ambulatorial de 24 horas (MAPA), com um dispositivo validado, durante dias normais de trabalho e sem uso de medicamentos. As medições ocorreram a cada 30 minutos durante o dia e a cada 60 minutos à noite. Com base na queda noturna da pressão sistólica, os padrões circadianos foram classificados como dipper, non-dipper ou riser. 

Os resultados mostraram que 67% dos pacientes com NF1 apresentaram padrão non-dipper, um número elevado em comparação com coortes anteriores compostas por indivíduos saudáveis e normotensos. Apenas 33% dos pacientes apresentavam o padrão dipper, com queda normal da PA durante o sono; 50% eram non-dippers, com redução da PA inferior a 10%; e 17% foram classificados como risers, com aumento da PA noturna. Esses achados foram preocupantes, pois os padrões non-dipper e riser estão associados a um risco aumentado de eventos cardiovasculares, como infarto do miocárdio e AVC. 

Além dos padrões de PA, os pesquisadores também identificaram correlações clínicas relevantes, como a associação significativa entre a atenuação da queda noturna da PA e o número de neurofibromas, especialmente os do tipo plexiforme. Especificamente, a redução atenuada da pressão sistólica durante a noite foi relacionada tanto ao número de neurofibromas cutâneos (p = 0,049) quanto à presença de neurofibromas plexiformes (p = 0,020). Esses achados sugerem uma possível ligação com a perda do segundo alelo funcional do gene NF1 nas células tumorais, o que poderia estimular a secreção de substâncias como catecolaminas, com impacto direto sobre a regulação da PA. Outro dado relevante foi a frequência inesperadamente elevada de feocromocitomas assintomáticos, indicando a necessidade de maior vigilância clínica nessa população. 

Além disso, os frequentes distúrbios do sono relatados por pacientes com NF1 podem interferir na secreção circadiana de melatonina e/ou na regulação da PA noturna, contribuindo para o padrão non-dipper. Evidências experimentais sugerem que a neurofibromina — cuja função está comprometida na doença — participa da manutenção do ritmo circadiano. Adicionalmente, a maior prevalência do padrão non-dipper pode também refletir uma disfunção autonômica, apontando para o envolvimento do sistema nervoso autônomo na desregulação da PA nesses indivíduos. 

Assim, mesmo entre aqueles classificados como dippers, os pacientes com NF1 apresentaram uma variabilidade circadiana da PA mais atenuada em comparação com coortes de indivíduos saudáveis normotensos. Diante disso, o estudo recomenda que o monitoramento periódico da PA seja incluído nas diretrizes de acompanhamento desses pacientes, visando diagnosticar hipertensão mascarada ou padrões non-dipper/riser, que aumentam significativamente a morbidade e mortalidade associadas à NF1. Além disso, é fundamental implementar estratégias terapêuticas específicas para pacientes normotensos com NF1, a fim de reduzir seu risco cardiovascular. 

Referência

  1. ivera AMC, Fernández-Villa T, Martín V, Atallah I. Blunted circadian variation of blood pressure in individuals with neurofibromatosis type 1. Orphanet J Rare Dis. 2023 Jun 23;18(1):164. doi: 10.1186/s13023-023-02766-7. 

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