Doenças raras na infância: Os Avanços no Tratamento da Doença de Niemann-Pick Tipo C com a chegada do Arimoclomol - MDHealth - Educação Médica Independente
terça-feira dez 3, 2024

Doenças raras na infância: Os Avanços no Tratamento da Doença de Niemann-Pick Tipo C com a chegada do Arimoclomol

Escrito por: MDHealth em 3 de dezembro de 2024

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Com recente aprovação pela FDA e dados que sustentam redução de 65% na progressão dos sintomas da doença de Niemann-Pick Tipo C, o arimoclomol abre novas perspectivas terapêuticas para pacientes com essa condição rara e progressiva. 

 

A Doença de Niemann-Pick Tipo C (NPC) é uma condição neurodegenerativa rara e progressiva que afeta crianças e adultos. Dependendo da idade no início dos sintomas neurológicos, as manifestações podem incluir perda de função motora, dificuldades na deglutição e fala, além de comprometimento cognitivo. Embora a NPC ainda não tenha cura, avanços recentes, como o arimoclomol, aprovado em 2024 pela Food and Drug Administration (FDA) nos Estados Unidos, oferecem novas perspectivas de tratamento. 

A NPC é uma doença complexa e heterogênea causado por alterações genéticas nos genes NPC1 ou NPC2, que codificam proteínas essenciais para o transporte e a regulação de colesterol e outros lipídios nos lisossomos. Essas alterações levam ao acúmulo de colesterol e lipídios dentro das células, especialmente nos lisossomos, prejudicando sua função de reciclar e degradar substâncias celulares. Esse acúmulo afeta a integridade e o funcionamento das células, resultando em danos ao sistema nervoso central, fígado e baço. A gravidade da doença varia, mas o início precoce dos sintomas está frequentemente associado a um curso mais agressivo, o que destaca a importância de intervenções precoces. 

No Brasil, o tratamento da NPC é limitado ao uso do miglustat, que, embora desacelere a progressão da doença, apresenta benefícios modestos e não é uma cura. O miglustat é aprovado na União Europeia e utilizado off-label nos Estados Unidos. Nesse contexto, o arimoclomol surge como uma nova esperança terapêutica, especialmente considerando seus resultados promissores em ensaios clínicos. 

O arimoclomol é um medicamento oral que potencializa uma resposta natural do organismo ao estresse celular, como o acúmulo de lipídios e proteínas malformadas, característica da NPC. Ele amplifica a produção de proteínas de choque térmico (Heat, Shock Response, HSPs), como a HSP70, que auxiliam no dobramento correto de proteínas, na reparação de proteínas danificadas, especialmente a NPC1, e na proteção contra a destruição celular. O medicamento também melhora a função dos lisossomos, fundamentais para a degradação dos lipídios acumulados nas células. Outra característica importante do arimoclomol é a sua capacidade de atravessar a barreira hematoencefálica, uma proteção natural que impede muitas substâncias de alcançarem o sistema nervoso central (SNC), essencial para tratar doenças que afetam o cérebro e o sistema nervoso. Com isso, arimoclomol apresenta-se como uma terapêutica inovadora que não apenas alivia os sintomas da doença, mas atua diretamente no mecanismo biológico. 

O estudo clínico com arimoclomol foi randomizado, duplo-cego, controlado por placebo, de fase II/III, e conduzido em múltiplos centros de pesquisa internacionais. Com a participação de 50 pacientes randomizamos entre 2 a 18 anos de idade, o estudo teve como objetivo principal avaliar a função neurológica, as capacidades motoras e cognitivas, além de outros parâmetros laboratoriais, como a atividade lisossômica. Durante 12 meses, os pacientes receberam doses de arimoclomol ou placebo, e a progressão dos sintomas foi monitorada pela escala 5-domain NPCCSS, que avalia cinco domínios centrais, críticos para monitorar a progressão da doença, como as funções motora, fala, deglutição, cognição e movimentos oculares. 

Os resultados monstraram que o arimoclomol reduziu significativamente a progressão dos sintomas neurológicos em comparação com o placebo. Pacientes tratados com arimoclomol apresentaram um aumento médio de apenas 0,76 pontos na escala ao longo de 12 meses, enquanto o grupo placebo teve aumento de 2,15 pontos. Isso equivale a uma redução de 65% na velocidade de progressão da doença em relação ao grupo placebo. Em subgrupos específicos, como pacientes com idade superior a 4 anos, a redução chegou a 82%. No subgrupo pré-especificado de pacientes que receberam miglustate como cuidado rotineiro, o arimoclomol resultou na estabilização da gravidade da doença ao longo de 12 meses, com uma diferença de tratamento de 2,06 pontos em favor do arimoclomol. Embora a maior diferença entre arimoclomol e placebo tenha sido observada em pacientes que receberam miglustate, e os resultados sugiram uma possível interação benéfica entre eles, os autores reforçaram que o estudo não foi projetado para confirmar um efeito aditivo ou sinérgico entre os tratamentos. 

Eventos adversos foram relatados em 88,2% dos pacientes que receberam arimoclomol e em 75,0% dos pacientes que receberam placebo. No entanto, eventos adversos graves foram menos frequentes no grupo tratado com arimoclomol (14,7%) em comparação ao placebo (31,3%). Entre os eventos graves relacionados ao tratamento com arimoclomol, destacaram-se dois casos de urticária e angioedema. Apesar disso, o arimoclomol foi considerado bem tolerado. 

Com os resultados promissores do arimoclomol e sua recente aprovação pela FDA, abre-se um importante caminho para avanços no tratamento da NPC, uma doença rara com opções terapêuticas limitadas. No entanto, para que o medicamento se torne acessível no Brasil, será necessária a aprovação pela ANVISA, representando um passo crucial para disponibilizar essa terapia inovadora à população brasileira. Esse avanço traz novas esperanças às famílias afetadas pela NPC e destaca o potencial de inovação no campo das doenças raras, criando um modelo para o desenvolvimento de terapias para outras condições genéticas e neurodegenerativas. 

Referência

  1. Mengel E, Patterson MC, Da Riol RM, Del Toro M, Deodato F, Gautschi M, Grunewald S, Grønborg S, Harmatz P, Héron B, Maier EM, Roubertie A, Santra S, Tylki-Szymanska A, Day S, Andreasen AK, Geist MA, Havnsøe Torp Petersen N, Ingemann L, Hansen T, Blaettler T, Kirkegaard T, Í Dali C. Efficacy and safety of arimoclomol in Niemann-Pick disease type C: Results from a double-blind, randomised, placebo-controlled, multinational phase 2/3 trial of a novel treatment. J Inherit Metab Dis. 2021 Nov;44(6):1463-1480. doi: 10.1002/jimd.12428. 

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