A Esclerose Múltipla é uma doença neurológica autoimune crônica e progressiva, sem cura conhecida, que pode levar a incapacidades significativas. Ela afeta o sistema nervoso central, provocando processos inflamatórios que causam cicatrizes nas áreas afetadas e danificam a bainha de mielina. Isso resulta na redução ou interrupção dos impulsos nervosos, que são responsáveis por transmitir mensagens para o restante do corpo.
É a doença neurológica mais comum do sistema nervoso central em adultos, afetando principalmente jovens entre 20 e 50 anos, com maior incidência em mulheres. Sua prevalência global varia conforme a geografia e a etnia, com taxas de cerca de 2 casos por 100.000 pessoas na Ásia e mais de 100 casos por 100.000 na Europa e América do Norte. Entre 2008 e 2013, o número de pessoas diagnosticadas com esclerose múltipla aumentou de 2,1 milhões para 2,3 milhões em todo o mundo. No Brasil, estima-se que existam 40.000 casos da doença, uma prevalência média de 15 casos por 100.000.
A causa exata da esclerose múltipla ainda não é totalmente compreendida, mas acredita-se que seja uma combinação de fatores genéticos, ambientais e possivelmente infecciosos.
Os tipos mais comuns de esclerose múltipla são:
- Esclerose Múltipla Recorrente-Remitente (EMRR): caracteriza-se por episódios de novos sintomas ou piora dos sintomas existentes seguidos de períodos de melhora ou estabilização;
- Esclerose Múltipla Primária Progressiva (EMPP): esta condição se caracteriza por uma progressão constante dos sintomas desde o início, sem períodos distintos de surtos e remissões;
- Esclerose Múltipla Secundária Progressiva (EMSP): inicia como EMRR, mas com o passar do tempo a progressão dos sintomas pode se tornar constante, com ou sem surtos;
- Esclerose Múltipla Progressiva Recorrente (EMPR): Caracteriza-se por progressão contínua com surtos ocasionalmente.
O diagnóstico da esclerose múltipla é baseado em uma combinação de histórico médico, exame físico, exames neurológicos e exames complementares como ressonância magnética (RM), análise do líquido cefalorraquidiano e potencial evocado. Embora não haja cura para a esclerose múltipla, existem tratamentos que podem ajudar a controlar os sintomas, modificar o curso da doença e melhorar a qualidade de vida. Os tratamentos incluem medicamentos modificadores da doença, corticosteroides para surtos agudos e terapias físicas e ocupacionais.
Recentemente, pesquisadores do Instituto Butantan descobriram um novo alvo para o tratamento da esclerose múltipla: o neurotransmissor acetilcolina. Utilizando um composto chamado crotoxina, derivado do veneno da cascavel, foi possível evitar a progressão da doença em 40% das amostras tratadas.
A acetilcolina atua como um neuromodulador no sistema nervoso central. Verificamos que, em modelos animais com a doença, certos receptores dessa via estavam reduzidos, enquanto em modelos tratados com crotoxina, esses receptores estavam aumentados. Estudos anteriores já haviam registrado uma diminuição nos níveis de acetilcolina em pacientes com esclerose múltipla. Durante as pesquisas, foi necessário encontrar uma medicação capaz de regular a via afetada, pois a proteína do veneno da cascavel é neurotóxica e não pode ser usada clinicamente. Para resolver essa questão, os cientistas utilizaram um fármaco já aprovado para o tratamento de Alzheimer que age inibindo a degradação da acetilcolina. Esse fármaco prolonga a ação da acetilcolina no sistema nervoso central, resultando em melhorias em aspectos como dor, comprometimento motor e neuroinflamação.
Os pesquisadores também experimentaram a crotoxina encapsulada em uma nanoestrutura de sílica, desenvolvida pelo grupo do pesquisador Osvaldo Brazil Sant’Anna. Essa nanopartícula conseguiu diminuir a toxicidade da crotoxina, permitindo sua aplicação em uma dosagem única e mais elevada de forma segura, além de potencializar seu efeito terapêutico. O tratamento não só reduziu a dor, como também preveniu a atrofia e a perda de função muscular nos animais estudados.