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terça-feira nov 19, 2024

Síndrome de Rubinstein-Taybi: primeiro consenso internacional

Escrito por: Fabiano de Oliveira Poswar em 2 de julho de 2024

3 min de leitura

Primeiro consenso internacional busca a padronização de práticas clínicas aos pacientes acometidos pela síndrome, além de apoio a famílias e pacientes e orientação para realização de pesquisas

 

O quê? 

Trata-se do primeiro consenso que reuniu especialistas internacionais para definir critérios diagnósticos e as melhores práticas de cuidado e manejo de pacientes com a síndrome. 

 

Por quê? 

A síndrome de Rubinstein-Taybi (SRT) é uma condição genética rara, descrita em 1963 por Jack Rubinstein e Hooshang Taybi, caracterizada por deficiência intelectual, polegares e hálux largos e dismorfismos faciais característicos (Rubinstein & Taybi, 1963). A prevalência ao nascimento estimada é de 1:125.000 a 1:300.000 pessoas, o que na população brasileira indicaria que cerca de 8 a 20 pessoas com a síndrome nascem a cada ano. Em 99% dos casos, as pessoas com a síndrome são filhos de pais saudáveis e a síndrome decorre de uma mutação de novo. Os genes associados à SRT (CREBBP e EP300) foram identificados entre 1995 e 2005 e atuam como coativadores transcricionais através da remodelagem da cromatina. Apesar dos avanços no conhecimento da síndrome e da publicação de diretrizes por alguns grupos, faltava um esforço de padronização das práticas a nível internacional. 

 

Como? 

Para construção do documento foi selecionado 52 participantes provenientes de 11 países, sendo composto por especialistas no diagnóstico e manejo da SRT, e representantes de grupos de apoio a famílias afetadas pela SRT. Foi empregado o método Delphi modificado para o processo de consenso. As reuniões ocorreram por videoconferência, comunicações por e-mail, trocas de arquivo, além de um encontro presencial de dois dias com 27 participantes em Bergen, Noruega.   

 

E aí? 

Os autores descreveram um total de 56 recomendações sobre a SRT em que as evidências ou a votação entre os participantes indicaram forte concordância. As recomendações são apresentadas no material suplementar do artigo e com base nelas foi construído o texto principal, que inclui seções sobre critérios diagnósticos clínico e molecular, correlações genótipo-fenótipo, e diretrizes de manejo para as diversas manifestações da doença desde o período neonatal até a vida adulta.   

Alguns destaques do texto incluem a apresentação de um critério diagnóstico clínico formal que inclui manifestações clínicas precoces da doença. Isso é especialmente relevante em uma doença em que 20% dos casos não têm um diagnóstico genético definido, apesar de avaliação molecular extensa. Além disso, há outras condições causadas por variantes nos mesmos genes, o que limita a utilidade de se definir a SRT exclusivamente pela identificação de uma variante patogênica no gene CREBBP ou no EP300. 

 

Ao longo do texto, percebe-se também a preocupação com que as recomendações reflitam o que é mais importante para as famílias acometidas. Por exemplo, os autores não apresentam um escore clínico de gravidade por entenderem que o impacto de cada manifestação na qualidade de vida só poderá ser adequadamente avaliado pelos cuidadores.  

 

O texto também inclui uma revisão pormenorizada do impacto da SRT nos diversos sistemas corporais, com recomendações específicas de manejo. Entre essas recomendações, está a necessidade de atenção especial ao manejo da via aérea ao se planejar procedimentos cirúrgicos eletivos. Há também o cuidado de corrigir algumas associações anteriormente levantadas em outros artigos, que não foram confirmadas em estudos posteriores (como, por exemplo, uma suposta maior incidência de câncer).  

 

E agora? 

O consenso sobre a SRT é um importante passo para que pacientes com a síndrome sejam beneficiados de um cuidado integral e apoiado pelas melhores evidências disponíveis. Um melhor entendimento sobre os mecanismos pelos quais as variantes genéticas do CREBBP e EP300 causam os sinais e sintomas da síndrome será essencial para que mais avanços possam ocorrer.  

Referências

  1. Buccellato FR, D’Anca M, Tartaglia GM, Del Fabbro M, Galimberti D. Frontotemporal dementia: from genetics to therapeutic approaches. Expert Opinion on Investigational Drugs. May 2024:1-13. doi:10.1080/13543784.2024.2349286 

  2. Knopman DS, Roberts RO. Estimating the Number of Persons with Frontotemporal Lobar Degeneration in the US Population. J Mol Neurosci. 2011;45(3):330-335. doi:10.1007/s12031-011-9538-y 

  3. Sevigny J, Uspenskaya O, Heckman LD, et al. Progranulin AAV gene therapy for frontotemporal dementia: translational studies and phase 1/2 trial interim results. Nat Med. 2024;30(5):1406-1415. doi:10.1038/s41591-024-02973-0 

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