Terapia com Asfotase Alfa na Cicatrização Óssea em Pacientes Adultos com Hipofosfatasia de Início Pediátrico - MDHealth - Educação Médica Independente
terça-feira mar 25, 2025

Terapia com Asfotase Alfa na Cicatrização Óssea em Pacientes Adultos com Hipofosfatasia de Início Pediátrico

Escrito por: MDHealth em 25 de março de 2025

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Estudos de caso mostraram os efeitos da reposição enzimática em fraturas não consolidadas, com melhora significativa na cicatrização e aumento da resistência óssea em pacientes adultos com Hipofosfatasia. 

A Hipofosfatasia (HPP) é uma doença rara que afeta a formação de ossos e dentes, resultando em ossos frágeis, fraturas frequentes e dificuldades de cicatrização. A condição também pode comprometer músculos, vasos sanguíneos e até o sistema nervoso, dependendo da gravidade e do momento de início da doença. Em adultos que convivem com a HPP desde a infância, a cicatrização de fraturas é particularmente difícil devido ao comprometimento da mineralização óssea. Causada pela redução da atividade de uma enzima, a doença pode ser tratada com reposição enzimática utilizando asfotase alfa (AA), terapia que tem demonstrado melhorar a mineralização óssea e favorecer a consolidação de fraturas. Em um estudo que investigou a eficácia da terapia com AA, três pacientes adultos com HPP foram acompanhados para avaliação da cicatrização óssea e reativação do remodelamento, promovendo melhora na qualidade e na função do osso. 

A HPP é um distúrbio musculoesquelético hereditário causado por mutações no gene ALPL, que codifica a enzima fosfatase alcalina tecidual não específica, responsável por processar e eliminar substâncias que impedem a mineralização óssea. A deficiência dessa enzima resulta em sua atividade reduzida e, como consequência, há aumento da excreção urinária de fosfoetanolamina (PEA) e acúmulo de substratos da enzima, como piridoxal-5’-fosfato (PLP) e pirofosfato inorgânico (PPi). O aumento de PPi interfere na formação de hidroxiapatita, comprometendo a mineralização do esqueleto e levando a condições como raquitismo ou osteomalácia, que aumentam o risco de fraturas e complicações, como as não-uniões ósseas, nas quais as fraturas não cicatrizam adequadamente. 

No estudo que avaliou a eficácia da terapia com AA, três pacientes adultos com HPP de início pediátrico foram tratados com asfotase alfa e acompanhados ao longo do tempo. Eles apresentavam histórico de cicatrização óssea prolongada após procedimentos ortopédicos e nenhum havia demonstrado melhora significativa antes do início do tratamento. Durante o acompanhamento, foram analisados biomarcadores bioquímicos, como fosfatase alcalina (ALP) e PLP, além de avaliações estruturais por tomografia computadorizada de feixe cônico (CBCT), com o objetivo de medir a regeneração óssea. 

Após o início do tratamento, todos os pacientes relataram melhora rápida no nível de dor. A avaliação da cicatrização óssea demonstrou que a melhora foi independente de idade, sexo, localização ou duração da fratura. A regeneração foi medida pelo aumento do volume ósseo em relação ao volume de tecido (BV/TV), obtido por CBCT, indicando rápida mineralização do tecido osteoide presumivelmente preexistente, uma vez que os níveis elevados de PPi, que inibem a formação de hidroxiapatita, foram reduzidos. Isso resultou em regeneração óssea e crescimento progressivo de tecido mineralizado nas áreas afetadas. As não-uniões foram parcialmente preenchidas com tecido osteoide, o que facilitou a cicatrização óssea. O acompanhamento dos três pacientes demonstrou os seguintes resultados: 

  • Paciente 1: Sofreu uma fratura que permaneceu não consolidada por 23 meses, necessitando de artrodese de revisão. Após o início do tratamento com AA, houve melhora significativa na cicatrização em 16 meses. 
  • Paciente 2: Apresentava uma fratura tibial sem sinais de cicatrização há cinco anos. Após 10 meses de tratamento, a fratura estava quase completamente consolidada. 
  • Paciente 3: Tinha uma fratura não consolidada após 18 meses, com múltiplos edemas ósseos e fraturas por estresse. Após 14 meses de tratamento com AA, a fratura apresentou consolidação e aumento da resistência a novas fraturas, com melhora significativa na cicatrização óssea. 

O estudo também observou aumento nos níveis de ALP e redução nos níveis de PLP logo após o início do tratamento, indicando uma resposta metabólica positiva. Todos os pacientes relataram melhora na mobilidade e na capacidade funcional, retomando atividades físicas sem dor e com maior força muscular. 

Foi observado ainda um leve declínio nos níveis de cálcio após o início da terapia, indicando uma forma muito leve da síndrome do osso faminto, que pode ocorrer em pacientes com hiperparatireoidismo ou osteomalácia induzida por tumor. No entanto, essa redução foi atribuída ao processo de remineralização do esqueleto, que demanda grande quantidade de minerais para melhorar a estrutura e qualidade óssea. O efeito foi transitório e não exigiu ajustes na suplementação de cálcio ou internação hospitalar. 

Embora o estudo apresente algumas limitações — como o número reduzido de participantes, a ausência de grupo controle, o tempo de acompanhamento limitado e a variabilidade clínica entre os casos —, os relatos de caso contribuem para a compreensão da ação e eficácia da asfotase alfa em adultos com HPP. Ainda que a asfotase alfa já fosse reconhecida como uma opção eficaz no tratamento da HPP infantil, este estudo reforça sua utilidade também em adultos com fraturas de difícil cicatrização. O tratamento demonstrou promover a consolidação de fraturas não cicatrizadas, provavelmente por meio da remineralização do tecido osteoide, preenchendo espaços previamente vazios e melhorando a função óssea em pacientes adultos com HPP. 

Referência

  1. Stürznickel J, Schmidt FN, von Vopelius E, Delsmann MM, Schmidt C, Jandl NM, et al. Bone healing and reactivation of remodeling under asfotase alfa therapy in adult patients with pediatric-onset hypophosphatasia. Bone. 2021;143:115794.